"O anarquismo defende a possibilidade de organização sem disciplina, temor ou punição, e sem a pressão da riqueza."

emma goldman

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2009/01/18

extraindo conceitos


Maria Tereza Goudard Tavares

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Com efeito, o crescimento vertiginoso da miséria humana, da degradação ambiental, da exclusão social e da violência em todos os campos do social, associado à descrença contemporânea na política – alimentada pelos mass media e pela indústria cultural – e somados ao declínio da esfera pública e mercantilização crescente da vida cotidiana, vêm acelerando a irrupção de sentimentos e práticas niilistas, que exarcebam o individualismo e o descompromisso com a vida coletiva, objeto fundamental da ética e da política.

Nesse sentido, as palavras de Boaventura de Souza Santos são definidoras da profunda crise do momento presente:

"Vivemos num tempo paradoxal. Um tempo de transformações vertiginosas produzidas pela globalização, a sociedade de consumo e a sociedade de informação. Nunca foi tão grande a discrepância ente a possibilidade técnica de uma sociedade melhor, mais justa e mais solidária e a sua impossibilidade política" (
Por uma pedagogia do conflito. Editora Sulina, 1996).

Para outros como François Dubet (
As desigualdades multiplicadas. Editora Unijuí, 2003), a atual crise civilizatória é muito mais aguda e complexa do que em outros períodos da história humana. Pois, a partir da modernidade no mundo ocidental, as desigualdades que sempre existiram, passam a ser consideradas não mais “naturais”. Portando, passam a constituir um problema social, que deve ser equacionado no campo político, econômico, cultural, jurídico, educacional etc.

Nesse sentido, complexificou-se em inúmeras dimensões a questão da consciência da “não-natureza” das desigualdades intra e inter sociedades. Isto é, o (re)conhecimento da produção histórico-social das desigualdades não vem sendo acompanhado de um desaparecimento e/ou supressão das mesmas. Pelo contrário, as desigualdades vêm vertiginosamente se ampliando, tornando a vida de uma imensa maioria no planeta ameaçada ao ponto da perda de sua humanidade. A sociedade humana e o próprio ecossistema vêm sofrendo ameaças de extinção em diferentes lugares do planeta.

Trazendo essas questões para a sociedade brasileira contemporânea, convivemos com índices sociais trágicos. De acordo com o IBGE (2004), tratando-se das somas dos rendimentos, os 10% mais ricos ganham 47 vezes mais do que os 10% mais pobres. Em 2003, havia mais de 40 milhões de pobres abaixo da linha de sobrevivência, ou seja, um em cada quatro brasileiros.

Assim, a existência de milhares de desempregados, analfabetos, trabalhadores rurais sem terra, trabalhadores urbanos sem-teto, pobreza e miséria no campo e na cidade, a perda da infância de meninos e meninas nas ruas, o crime organizado e a nossa perversa concentração de renda são problemas que nos empurram cada vez mais para uma “apartheid” social e nos questionam se, em alguns momentos de nossa história, fomos cidadãos.

[...]

leia mais, saiba mais:
http://www.asduerj.org.br/publica/publicacoes.asp#


3 comentários:

Anônimo disse...

tudo leva a crer que o 'mal' do nosso século se concentra no fatídico desejo de pertencimento, via consumo de babilaques multicoloridos


Jean Baudrillard:

“À nossa volta, existe hoje uma espécie de evidência fantástica do consumo e da abundância, criada pela multiplicação dos objetos, dos serviços, dos bens materiais, originando como que uma categoria de mutação fundamental na ecologia da espécie humana. Para falar com propriedade, os homens da opulência não se encontram rodeados, como sempre acontecera por outros homens, mas mais por objetos.

O conjunto das suas relações sociais já não é tanto o laço com os seus semelhantes quanto, no plano estatístico segundo uma curva ascendente, a recepção e a manipulação de bens e de mensagens, desde a organização doméstica muito complexa e com as suas dezenas de escravos técnicos, até ao “mobiliário urbano” e toda a maquinaria material das comunicações e das atividades profissionais, até ao espetáculo permanente da celebração do objeto na publicidade e as centenas de mensagens diárias emitidas pelos "mass média"; desde o formigueiro mais reduzido de quinquilharias vagamente obsessivas até aos psicodramas simbólicos alimentados pelos objetos noturnos, que vêm invadir-nos nos próprios sonhos.

Os conceitos de “ambiente” e de “ambiência” só se divulgaram a partir do momento em que, no fundo, começamos a viver menos na proximidade dos outros homens, na sua presença e no seu discurso; e mais sob o olhar mudo de objetos obedientes e alucinantes que nos repetem sempre o mesmo discurso – isto é, o do nosso poder medusado, da nossa abundância virtual, da ausência mútua de uns aos outros. Como a criança-lobo se torna lobo à força de com eles viver, também nós, pouco a pouco, nos tornamos funcionais. Vivemos o tempo dos objetos(…).”

transcrito de “A Sociedade de Consumo”; Jean Baudrillard; Edições 70 (1995); Tradução de Artur Mourão

Anônimo disse...

segue um pequeno adjutório:


Jean Baudrillard:

"É preciso viver inteligentemente com o sistema, mas revoltar-se com suas conseqüências. É preciso viver com a idéia de que sobrevivemos ao pior"

Anônimo disse...

Relax, pois o 'gozo' ainda não acabou:

Jean Baudrillard :

“Se fosse necessário caracterizar o estado atual das coisas, diríamos que é o de pós-orgia. A orgia é todo momento explosivo da modernidade, da liberação em todos os domínios: liberação das forças produtivas, das pulsões inconscientes, liberação da arte. Atualmente tudo está liberado, a sorte está lançada e estamos diante da questão crucial: Que fazer depois da orgia?”