"O anarquismo defende a possibilidade de organização sem disciplina, temor ou punição, e sem a pressão da riqueza."

emma goldman

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2009/09/13

extraindo conceitos


PROUDHON: AUTOGESTÃO & AUTONOMIA*

Fernando C. Prestes Motta


Os ideais de participação estão firmemente ancorados em idéias bastantes antigas que remontam ao socialismo utópico do século passado [séc. XIX]. De certa forma, essa corrente filosófica constitui a resposta intelectual à situação nova criada pela revolução industrial.

Dentre os socialistas utópicos e libertários mais relevantes, quando se considera as origens das propostas participativas, estão certamente Robert Owen (1771- 18580, Charles Fourier (1772- 1837), Louis Blanc (1811- 1858), Phillippe Buchez (1796- 1865) e Pierre-Joseph Proudhon (1809- 1865).

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De todos esses intelectuais, o único proletário, Proudhon era um autodidata. Tipógrafo, era filho de pai toneleiro e mãe camponesa. Foi também, dentre eles, o único a desenvolver uma crítica econômica e política sistematizada da sociedade capitalista e a propor um sistema complexo da sociedade autogerida.

Proudhon entendia que o capitalismo era um sistema impulsionado por determinadas contradições internas responsáveis pela passagem de um estágio de anarquia negativa, para um estágio de feudalidade industrial (capitalismo oligopólio). Entendia, também, que esse estágio deveria evoluir para o império ou Estado industrial (capitalismo de estado) e que, finalmente, o sistema seria destruído, dando lugar à anarquia positiva ou democracia industrial, que seria a sociedade socialista autogestionária.

Entendia que na nova sociedade as empresas industriais seriam autogeridas e de propriedade coletiva dos trabalhadores. Essas empresas que chamava de companhias operárias, deveriam federar-se a uma Federação da Indústria.

Entendia que a agricultura deveria ser mutualizada, isto é, pensando na França de seu tempo, via as pequenas propriedades familiares organizadas em comunas rurais. Essas comunas rurais deveriam se federar numa Federação Agrícola.

Federação Agrícola e Federação Industrial formariam uma Federação Agro-Indústria. Esta, numa organização que incluiria produtores e consumidores, daria origem ao Sindicato da Produção e do Consumo, responsável pelas estatísticas econômicas e pela organização do comércio e dos serviços.

No sistema de Proudhon não há lugar para o Estado [centralizador, coercitivo, assistencialista, previdenciário, intervencionista, etc.] como o concebemos, mas existe o projeto de uma organização política altamente descentralizada, cujos órgãos de base são os grupos naturais, isto é, grupos funcionais e territoriais. O que Proudhon propõe é um sistema de coordenação em oposição a um sistema de autoridade, que lembra bastante o discurso autonomista de nossos dias.

*fragmentos do ensaio “Alguns Percursores do Participacionismo”, autoria de Fernando C. Prestes Motta, e publicado in: Participação e Participações (Ensaios sobre Autogestão), de Roberto Venosa (org.), Editora Babel Cultural, São Paulo, 1987.


Um comentário:

João disse...

Tenho discordâncias sobre a transposição da teoria proudhoniana totalmente para nossos dias.
Contudo, acredito sem dúvida, que o princípio da autogestão é para ser colocado em prática, mas com pessoas que possuam certas características e maturidade.
Vivemos na infância da humanidade, a autodestruição do coletivo em pró do indivíduo é uma realidade majoritaria no momento.
Acredita-se que trabalhar para um desconhecido, produzido sem se saber qual a finalidade e tendo um mínimo de retorno é o que sonha a maioria, ou seja, vivemos numa sociedade de servidão voluntária para a maioria e de destruição do meio onde se vive.
Os dias irão melhorar e logo poderemos produzir por um bem coletivo, como mesmo você já tentou.
Abraço