"O anarquismo defende a possibilidade de organização sem disciplina, temor ou punição, e sem a pressão da riqueza."

emma goldman

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2009/11/15

extraindo conceitos__16

a proposta de Proudhon
por Fernando Cláudio Prestes Motta

Conclusão:

[...] o poder se apresenta historicamente sob forma de apropriação e que, no capitalismo moderno, essa apropriação se dá através da burocracia.

Além disso, vimos que a burocracia tende a assumir e conservar o monópolio da função de governo dos processos sociais essenciais, que ela pretende governar em nome das massas trabalhadoras, que ela expropria uma parte da mais-valia, sob forma de vários privilégios.

A teoria autogestionária de Proudhon é a negação desses processos; nela, a política torna-se governo do próprio povo e desaparece a apropriação econômica e política, que caracteriza o sistema burocrático.

As duas formas de opressão social, que negam a personalidade autônoma dos grupos sociais e a capacidade de autogestão da sociedade pluralista, são demonstradas por Proudhon:

1.- A propriedade capitalista, no seu fundamento social, aparece como uma usurpação da força coletiva e, nas suas conseqüências sociais, como uma usurpação da produção social.

2.- O Estado, apesar de sua complexidade maior, vai apresentar características semelhantes. Ele se as atribui pela fixação de um governo considerado como uma representação exterior da força social, como uma concentração única e hierárquica, que se revela praticamente como um instrumento de dominação, como um monopólio de poderes, como um aparelho repressivo.

A autogestão é a negação da burocracia e da heterogestão que separa artificiamente uma categoria de dirigentes de uma categoria de dirigidos. A autogestão libera a sociedade real das ficções a que se acha submetida.

A proposta teórica de Proudhon, produzida no século passado [XIX], é porém, apenas um marco sobre o qual se pode imaginar as condições efetivas de autogestão, bem como as formas que ela poderá assumir em sociedades contemporâneas.

A importância do trabalho de Proudhon permanece, portanto, como indicador de uma forma de organização social que respeita a liberdade e o pluralismo. Permanece como possibilidade de se ver a organização econômica e política não de cima para baixo, mas, ao contrário, a partir das massas.

A criação de uma sociedade autogestionária não é uma utopia, já que não se trata de uma impossibilidade. Trata-se, isto sim, de algo que incomoda profundamente os detentores do poder.

Em uma sociedade autogestionária não há lugar para burocratas. A proposta autogestionária traz a incerteza para um mundo onde quase todos buscam a certeza.

Esta é a razão pela qual as experiências plenamente autogestionárias não puderam se manter. Enquanto as ideologias do poder procuram ocultar as múltiplas alienações do homem moderno, a proposta autogestionária surge como denúncia, como possibilidade real e radical de transformação social.

Nessa possibilidade está sua grande dificuldade de operacionalização, já que a razão que a sustenta é o contrário da razão do poder.

in:

BUROCRACIA E AUTOGESTÃO (a proposta de Proudhon), de Fernando Claúdio Prestes Motta; editora brasiliense; 1981

extra:

"A burocracia é o principal elemento de um sistema antagônico. Onde existe antagonismo, existe burocracia"
Fernando Prestes Motta

"A educação moderna convencional muito raramente se preocupa com o desenvolvimento da pessoa. Opta, normalmente e com a cumplicidade dos pais ansiosos por filhos bem-sucedidos na "vida", pelo desenvolvimento funcional ou profissional, exacerbando a angústia do adolescente. As instituições educacionais e, de modo especial, a universidade, nasceram como um espaço no qual o mestre formava seus discípulos através da convivência diária. Esse espaço tornou-se uma grande burocracia impessoal em que a convivência é meramente funcional. Busca-se formar boas engrenagens, no melhor dos casos, e não pessoas adultas, maduras individual e socialmente"
Fernando Prestes Motta

"A vida pulsa no sonho, a vida pulsa no mito, a vida pulsa vigorosa na mão daqueles que a reescrevem. O que somos, e, portanto, e muito provavelmente, o que seremos, ganham sentido quando podemos decifrar os grupos, as organizações e as coletividades em geral e, para tanto, é necessário desenvolver percepção, reflexão e capacidade de análise crítica."
Fernando Prestes Motta

2 comentários:

Anônimo disse...

"Será necessário repetir aqui todos os argumentos irrefutáveis do socialismo, que até agora nenhum economista burguês conseguiu contestar?

O que é a propriedade, o que é o capital em sua presente forma? Para o capitalista e para o detentor da propriedade, eles significam o poder e o direito, garantidos pelo Estado, de viver sem ter de trabalhar.

E, uma vez que nem a propriedade, nem o capital produzem qualquer coisa se não forem fertilizados pelo trabalho, isso significa o poder e o direito de viver à custa da exploração do trabalho alheio, o direito de explorar o trabalho daqueles que não possuem propriedade ou capital e que, portanto, são forçados a vender sua força produtiva aos afortunados detentores de ambos".

Mikhail Bakunin

Anônimo disse...

mikhail bakunin:

[... o discurso do burguês-empregador em relação ao proletário (o discurso não mudou até hoje)]:

“(...) Vejam bem, eu tenho um pouco de capital, que por si só nada pode produzir, porque algo morto nada pode produzir.

Nada tenho de produtivo sem o trabalho. Assim sendo, não posso lucrar consumindo-o improdutivamente, uma vez que, consumindo-o, eu nada mais teria.

Porém, graças às instituições sociais e políticas que nos governam e que estão todas a meu favor, na atual economia meu capital também deve ser um produtor: ele me traz lucro.

De quem esse lucro deve ser tirado – e deve ser de alguém, uma vez que, na realidade, ele não produz absolutamente nada por si mesmo –, não interessa a você. É o bastante, para você, saber que ele gera lucro. Sozinho, este lucro não é suficiente para cobrir meus gastos.

Eu não sou um homem simples como você. Não posso estar, nem quero estar, contente com pouco. Eu quero viver, morar em uma bela casa, comer e beber bem, andar de carruagem, ter boa aparência, resumindo, ter todas as coisas boas da vida.

Eu também quero dar uma boa educação aos meus filhos, torná-los cavalheiros, e mandá-los estudar fora, e no fim das contas, tendo recebido muito mais educação que você, que eles possam dominá-lo algum dia, assim como eu o domino hoje.

E já que a educação por si só não é suficiente, quero deixar para eles uma grande herança, para que, dividindo-a entre eles, permaneçam quase tão ricos quanto eu”.