"O anarquismo defende a possibilidade de organização sem disciplina, temor ou punição, e sem a pressão da riqueza."

emma goldman

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2010/04/15

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(des)encontros anárquicos de literatura
ABRIL DESPEDAÇADO

Centro de Cultura Social

um encontro com:

Albert Camus, “O Estrangeiro”

(des)encontros anárquicos de literatura.

(leia o livro e traga uma bebida)

17/04, sábado às 20h


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O ESTRANGEIRO (1942)

Albert Camus

(no prefácio à edição americana do livro, em 1955)


Resumi O Estrangeiro, já faz bastante tempo, com uma frase que reconheço ser bastante paradoxal: “em nossa sociedade, todo homem que não chora no enterro de sua mãe corre o risco de ser condenado à morte”.

Pretendo dizer apenas que o herói do livro é condenado porque ele não joga o jogo. Nesse sentido, ele é estrangeiro à sociedade onde vive; ele erra, à margem, nos subúrbios da vida privada, solitária, sensual.

E por isso os leitores são tentados a considerá-lo como um arruinado.

Ter-se-á contudo uma idéia mais exata do personagem, em todo caso mais conforme às intenções de seu autor, caso se pergunte de que modo Meursault não joga o jogo. A resposta é simples: ele recusa mentir. Mentir não é somente dizer o que não é.

É também, sobretudo, dizer mais do que é; e, no que concerne ao coração humano, dizer mais do que se sente. É o que fazemos todos, todos os dias, para simplificar a vida.

Meursault, contrariamente às aparências, não quer mais simplificar a vida. Ele diz o que é, recusa mascarar seus sentimentos e imediatamente a sociedade se sente ameaçada.

Pedem por exemplo para ele dizer que se arrepende de seu crime, segundo a fórmula consagrada. Ele responde experimentar a esse respeito mais enfado do que arrependimento verdadeiro. E esse tom o condena.

Meursault, para mim, não é portanto um arruinado, mas um homem pobre e nu, amante do sol que não deixa sombra.

Longe de ser privado de toda sensibilidade, uma paixão profunda, porque tenaz, o anima, a paixão do absoluto e da verdade.

Trata-se de uma verdade ainda negativa, a verdade de ser e de sentir, mas sem a qual nenhuma conquista sobre si jamais será possível.

Não seria errôneo, portanto, ler em O Estrangeiro a história de um homem que, sem nenhuma atitude heroica, aceita morrer pela verdade.

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Assista: Margareth Rago, sobre as Estéticas da Existência

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Um comentário:

João disse...

Sempre estrangeiro...