"O anarquismo defende a possibilidade de organização sem disciplina, temor ou punição, e sem a pressão da riqueza."

emma goldman

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2010/05/24

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MAIO TEMPO TRÁGICO

Oficina Libertária 2010

(26/05, quarta-feira às 19h)

Em Malatesta, o gesto de afirmação da organização anarquista é indissociável do gesto que nega a revolução como episódio meramente destrutivo. Isso o levou a distinguir insurreição e revolução, e afirmar a necessidade de pensar essa última como práticas de liberdade por meio da organização


"de novos institutos, de novos agrupamentos, de novas relações sociais; a revolução é a destruição dos privilégios e dos monopólios; é um novo espírito de justiça, de fraternidade, de liberdade que deve renovar toda a vida social, elevar o nível moral e as condições materiais das massas, chamando-as a proverem pela sua própria obra direta e consciente para a determinação do próprio destino. (...) revolução é a destruição de todos os vínculos coativos, é a autonomia dos grupos, dos municípios, das regiões; (...) revolução é a constituição de miríades de livres agrupamentos correspondentes às idéias, aos desejos, às necessidades, aos gostos de toda espécie existentes na população (...). A revolução é a liberdade experimentada no ambiente e incorporada nos fatos (...) e dura até quando durar a liberdade" (Malatesta, 1975c:79: Scritti. 3º vol.: Pensiero e Volontà e ultimi scritti).


Foucault (2001:1529: Dits et écrits, v. II: 1976-1988) afirmou que as "práticas de liberação são insuficientes para definir práticas de liberdade que serão em seguida necessárias para que um povo, uma sociedade e seus indivíduos possam dar-se formas plausíveis e aceitáveis de sua existência ou da sociedade política".


Daí a necessidade de insistir mais "sobre as práticas de liberdade do que sobre os processos de liberação". Processos de liberação são por si mesmos insuficientes para definir práticas de liberdade. Ao tomar como exemplo a sexualidade dizia que melhor que clamar "liberemos nossa sexualidade", o problema mais urgente é procurar definir as práticas de liberdade através das quais seria possível fazer jogar o prazer sexual, erótico e amoroso.


"Este problema ético da definição das práticas de liberdade é, parece-me, muito mais importante do que a afirmação, um pouco repetitiva, de que é preciso liberar a sexualidade ou o desejo" (Id.). Certamente, não é possível a existência de práticas de liberdade, ou só é possível que elas existam de modo bastante limitado, sem processos de liberação.


Aqui, os processos de liberação desempenham o papel de desfazerem estados de dominação nos quais "as relações de poder, ao invés de serem móveis e de permitirem aos diferentes parceiros uma estratégia que as modifique, encontram-se bloqueadas e cristalizadas" (Ibid.:1529-1530). Dessa forma, o processo de liberação funciona como condição histórico-política para as práticas de liberdade.


Sem dúvida foram necessários processos de liberação no campo da sexualidade para que o poder opressivo do macho, do heterossexual etc., fossem contestados, “mas, essa liberação não faz aparecer o ser feliz e pleno de uma sexualidade em que o sujeito alcançaria uma relação completa e satisfatória. A liberação abre um campo para novas relações de poder, as quais se torna necessário controlar por práticas de liberdade” (Ibid.:1530).


A partir da noção de práticas de liberdade é preciso entender a problemática da organização anarquista em Malatesta e a correlata problematização da revolução-educação. De um lado, a organização anarquista deveria compensar o gesto negativo dos processos de liberação. Durante muito tempo, diz Malatesta, os anarquistas acreditaram que uma insurreição bastava por si mesma, e que após terem sido vencidos o exército e a polícia "o resto, que era o essencial, viria por si".


Foi um tempo em que persistiu a idéia segundo a qual "a tarefa dos anarquistas é a de demolir, e que a reconstrução seria obra de nossos filhos e netos". Pensava-se "que a anarquia e o comunismo poderiam surgir como conseqüências diretas e imediatas de uma insurreição vitoriosa. Não se trata, dizíamos, de alcançar um dia a anarquia e o comunismo, mas de começar a revolução social com a anarquia e com o comunismo. É necessário, repetíamos nos nossos manifestos, que na noite do próprio dia em que fossem vencidas as forças governamentais, cada um possa satisfazer plenamente suas necessidades essenciais, provar, sem atraso, os benefícios da revolução" (Malatesta, 1975c:393-394: Scritti. 3º vol.: Pensiero e Volontà e ultimi scritti ).


Hoje, diz Malatesta, é preciso "pensar que além do problema de assegurar a vitória contra as forças materiais do adversário, existe também o problema de fazer viver a revolução após a vitória. (...) uma revolução que produzisse o caos não seria vital" (Ibid.:350-351). Daí a positividade plena da anarquia residir nas práticas de liberdade propiciadas pela organização anarquista antes, durante e depois da revolução.


De outro lado, na organização anarquista estava em jogo todo o problema ético da definição da anarquia e do anarquismo. Pensar a anarquia como uma prática permitiu a Malatesta escapar das definições ideais e incertas da filosofia:


"prefiro ater-me às definições vulgares que nos dizem que a Anarquia é um modo de convivência social no qual os homens vivem fraternalmente sem que ninguém possa oprimir e explorar os outros e todos tenham a sua disposição os meios que a civilização hodierna pode fornecer para alcançar o máximo desenvolvimento moral e material; e o Anarquismo é o método para realizar a anarquia por meio da liberdade, sem governo, quer dizer, sem órgãos autoritários que pela força, mesmo em nome do bem, imponham aos outros a própria vontade". (Ibid.:183-184)


O que os anarquistas propõem é um novo método de livre iniciativa e pacto livre.



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Proposta de Estudos:


(III) 26/05, quarta-feira as 19h:

Errico Malatesta e Michel Foucault sobre o fascismo**


(IV) 16/06, quarta-feira as 19h:

“Anarquismo e governamentalidade” ou uma concepção analítica do poder**


(V) 26/06, sábado as 16h:

“Anarqueologia dos saberes”:

apresentação e lançamento do livro Do governo dos vivos. Curso no Collège de France, 1979-1980 (excertos), de Michel Foucault (Editora Achiamé, Rio de Janeiro, trad. de Nildo Avelino).

(*) Nildo Avelino é Doutor em Ciência Política pela PUC-SP e Pós-Doutorando em História Política pelo IFCH/UNICAMP. É pesquisador na área de Teoria Política sobre os temas: anarquismo, governamentalidade, anarqueologia. Participou, em setembro de 2009, do seminário internacional “Anarchismo, post-anarchismo e nuovi movimenti antiautoritari nella società contemporanea” realizado em Pisa pela Biblioteca Franco Serantini no âmbito da XIV Conférence Internationale della Fédération Internationale des Centres d'Études et de Documentation Libertaires (FICEDL), bem como do workshop “Anarchism” coordenado por Ruth Kinna durante a 6th Annual Conference in Political Theory da Manchester Metropolitan University. É militante do CCS desde 1991.

2 comentários:

snc anti-facista disse...

blog bastante interessante gostaria de aprofundar mais os assuntos aqui expostos,como de participar das oficinas começando pela do dia 26/05 amanha,falta saber onde sera realizada as oficinas
aguardo resposta soneca_acrata@yahoo.com.br
abraços libertarios

O HOMEM REVOLTADO disse...

"compa",



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