(Entrevista com o filósofo da Universidade de Barcelona

Santiago López-Petit),
agora editado pela Deriva em Portugal, publicada na última edição da revista Visão (portugal).
Perante a crise financeira, social e política que fragiliza as sociedades europeias que resposta devem dar os cidadãos?
E se deixarmos de ser cidadãos? O cidadão, hoje, não é um homem livre, é uma peça da máquina de opressão que se chama democracia.
O cidadão é um homem que acredita no que o poder lhe diz.
Agora, o poder diz que há uma crise terrível causada pelo facto do cidadão ter vivido acima das suas possibilidades e a única solução é o sacrifício.
É falso.
A crise é a fuga para a frente de um capitalismo desenfreado. Deixarmos de ser cidadãos é começarmos a esvaziar as instituições e perder o medo de experimentar outras formas de vida colectiva.
Como se faz isso?
O capitalismo e a realidade confundem-se.
Viver já não é viver, é gerir a vida que temos e convertê-la num projecto rentável. Viver, em definitivo, é trabalhar.
A nossa vida está precarizada e humilhada. Assinamos um contrato hipotecário com a realidade, mas podemos não o fazer.
O nosso querer viver, em vez de funcionar dentro da máquina capitalista, pode transformar-se num desafio.
Temos nas mãos a possibilidade de deixar de ser o que a realidade nos impõe e expulsarmos o medo que há em nós.
Nesse contexto, como se condiciona e sobrevive um pensamento livre?
O pensamento está assediado e desactivado. É muito mais do que a mera mercantilização e privatização.
Desactivar o pensamento significa que nos expropriam dos saberes que nos veiculam ao mundo e à sua transformação colectiva.
As idéias funcionam exclusivamente para o capital. Temos de libertar as ideias da sua sujeição.
Em última instância, temos de nos converter num problema para a própria realidade.
Isto é um pensamento livre.
Como define aquilo a que chama «Estado-Guerra»?
O Estado-Guerra aparece simbolicamente no 11 de Setembro de 2001 quando os EUA declararam guerra ao terrorismo.
A política é a guerra contra o inimigo que o próprio Estado decide escolher.
Mas o Estado-Guerra é apenas uma das caras da democracia.
A outra é o fascismo pós-moderno baseado no reconhecimento da diferença para poder esterilizá-la e na neutralização mediante a cultura do conflito e a sua evacuação do espaço público.
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