"O anarquismo defende a possibilidade de organização sem disciplina, temor ou punição, e sem a pressão da riqueza."

emma goldman

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2010/05/28

extraindo conceitos__56


(Entrevista com o filósofo da Universidade de Barcelona
Santiago López-Petit),

agora editado pela Deriva em Portugal, publicada na última edição da revista Visão (portugal).



Perante a crise financeira, social e política que fragiliza as sociedades europeias que resposta devem dar os cidadãos?
E se deixarmos de ser cidadãos? O cidadão, hoje, não é um homem livre, é uma peça da máquina de opressão que se chama democracia.

O cidadão é um homem que acredita no que o poder lhe diz.

Agora, o poder diz que há uma crise terrível causada pelo facto do cidadão ter vivido acima das suas possibilidades e a única solução é o sacrifício.

É falso.

A crise é a fuga para a frente de um capitalismo desenfreado. Deixarmos de ser cidadãos é começarmos a esvaziar as instituições e perder o medo de experimentar outras formas de vida colectiva.

Como se faz isso?
O capitalismo e a realidade confundem-se.

Viver já não é viver, é gerir a vida que temos e convertê-la num projecto rentável. Viver, em definitivo, é trabalhar.

A nossa vida está precarizada e humilhada. Assinamos um contrato hipotecário com a realidade, mas podemos não o fazer.

O nosso querer viver, em vez de funcionar dentro da máquina capitalista, pode transformar-se num desafio.

Temos nas mãos a possibilidade de deixar de ser o que a realidade nos impõe e expulsarmos o medo que há em nós.

Nesse contexto, como se condiciona e sobrevive um pensamento livre?
O pensamento está assediado e desactivado. É muito mais do que a mera mercantilização e privatização.

Desactivar o pensamento significa que nos expropriam dos saberes que nos veiculam ao mundo e à sua transformação colectiva.

As idéias funcionam exclusivamente para o capital. Temos de libertar as ideias da sua sujeição.

Em última instância, temos de nos converter num problema para a própria realidade.

Isto é um pensamento livre.

Como define aquilo a que chama «Estado-Guerra»?
O Estado-Guerra aparece simbolicamente no 11 de Setembro de 2001 quando os EUA declararam guerra ao terrorismo.

A política é a guerra contra o inimigo que o próprio Estado decide escolher.

Mas o Estado-Guerra é apenas uma das caras da democracia.

A outra é o fascismo pós-moderno baseado no reconhecimento da diferença para poder esterilizá-la e na neutralização mediante a cultura do conflito e a sua evacuação do espaço público.

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