"O anarquismo defende a possibilidade de organização sem disciplina, temor ou punição, e sem a pressão da riqueza."

emma goldman

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2010/06/26

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SÁBADO, 19 DE JUNHO DE 2010

África do Sul? Vá e não me chame.

"Distrito 9" é science fiction, mas é África do Sul real o tempo todo.


tony pacHEco


Você vê os estádios da África do Sul, a maioria deste tipo de arquitetura modernosa que a China consagrou nas Olimpíadas, e pensa, como o presidente Lula quando visitou Windhoek, na Namíbia: "Tão legal que nem parece a África".
Não parece e nem é.
Primeiro - é um país recordista na epidemia de AIDS: 20% da população adulta do país está contaminada pelo vírus da imunodeficiência adquirida. Das prostitutas e prostitutos sulafricanos, 47% (quase a metade) estão infectados. E a situação não muda porque as tribos que se revezam no poder desde o fim do racismo institucionalizado (apartheid) em 1990, não têm quadros na área de Saúde para encaminhar a solução do problema.
Para se ter uma idéia, a ex-ministra da Saúde, Manto Tshabalala-Msimang, há pouco mais de três anos ainda entrava em rede nacional de TV e rádio para recomendar o uso de BETERRABA E ALHO para "curar" AIDS.
Quando ela saiu do Ministério da Saúde, em 2007, colocaram uma especialista em saúde pública que no mesmo ano foi logo demitida porque viajou para uma Congresso de Combate à AIDS na Europa. É por aí que a carruagem anda na África do Sul...
Segundo - os grupos tribais que se impuseram no poder não deixam o país avançar e o governo negro tem que pagar salários altíssimos para manter os brancos (mão-de-obra altamente especializada) nos postos de trabalho para que o país não entre em colapso, pois logo depois da posse de Nelson Mandela, houve uma debandada de brancos em direção à Europa e os brancos eram, justamente, os médicos, engenheiros, professores, arquitetos, enfim, aquilo mesmo.
Terceiro - O problema de trabalho na África do Sul é catastrófico: 40% da mão-de-obra do país está desempregada e o resultado disso é uma violência epidêmica.
Quarto - Turismo na África do Sul é pior que no Brasil. Para se sair à noite, só em comboios com guardas armados. Ninguém se aventura alguns passos longe dos hotéis.

Resumo da ópera: o apartheid acabou, mas 20 anos depois do fim da supremacia branca, até agora, os 47 milhões de habitantes (40 milhões negros) não viram mudanças substanciais. A maioria negra continua afastada da propriedade das terras, por exemplo, que continua nas mãos, em 80%, dos brancos.
A miséria é tamanha, que nas grandes cidades a favelização aumentou estupidamente nos últimos 20 anos de supremacia negra.
Os políticos sulafricanos conseguem ser mais bizarros do que os brasileiros. Só estão interessados em seus projetos corporativos e a corrupção campeia.
Por fim, o presidente do país, Jacob Zuma, consegue transformar o nosso presidente Lula é estadista, filósofo e o que mais você desejar. Pois, pense bem: Zuma é polígamo (tem três esposas oficiais e outras não-oficiais) e sua vida pessoal é uma comédia tão bisonha quanto a vida de Berlusconi na Itália e um incentivo à avacalhação nacional.

Chega, não aguento mais. E a TV vendendo no mundo inteiro uma imagem de girafinhas comendo folhinhas no alto das árvores. Olhe, me deixe!

P.S.: quer entender a África do Sul? Veja o filme "Mandela" e o filme "Distrito 13" que você vai ter uma idéia mais ou menos sem precisar correr o risco de tomar um tiro em qualquer esquina da Cidade do Cabo ou de Johannesburg.

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