"O anarquismo defende a possibilidade de organização sem disciplina, temor ou punição, e sem a pressão da riqueza."

emma goldman

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2010/07/15

extraindo conceitos__76

"Durante dezenas de milhares de anos, os seres humanos viveram em sociedades sem qualquer instituição política formal ou autoridade constituída. Acerca de 6000 anos atrás, pela altura da chamada aurora da civilização, começaram a surgir as primeiras sociedades com estruturas formais de hierarquia, comando, controle e obediência. No início, estas sociedades hierárquicas eram relativamente raras e isoladas principalmente no que é agora a Ásia e o Médio Oriente.

Lentamente elas aumentaram de tamanho e influência, usurpando, por vezes conquistando e escravizando as sociedades tribais anárquicas circundantes em que a maioria dos humanos continuava a viver. Por vezes independentemente, por vezes em resposta a pressões de fora, outras sociedades tribais também desenvolviam formas hierárquicas de organização social e política.

Ainda assim, antes da era da colonização europeia, grande parte do mundo permanecia essencialmente anárquico, com pessoas em várias partes do mundo a continuar a viver sem instituições formais de governo até o século XIX. Foi apenas no século XX que o globo foi definitivamente dividido em estados nacionais em competição que passaram a reclamar soberania de praticamente todo o planeta.

A ascensão e triunfo da sociedade hierárquica está longe de ter sido pacífica. A guerra e a civilização marcharam sempre de mãos dadas, deixando para trás um rasto de destruição dificilmente concebível para as suas numerosas vítimas, muitas das quais tinham pouca ou nenhuma compreensão das forças alinhadas contra elas e o seu chamado modo de vida primitivo. Foi uma disputa tão desigual como implacável.

Inocentes do que é o governo, tendo vivido sem ele toda a sua vida durante milhares de anos, as pessoas das sociedades anárquicas não tinham a concepção de anarquia como uma forma distinta de viver a vida. Viver sem governantes era algo que eles simplesmente faziam. Consequentemente, o anarquismo, a ideia que viver sem governo é um modo de vida superior, nunca lhes teria ocorrido, faltando-lhes algo com que comparar a anarquia até ao momento em que era tarde demais.

Foi apenas quando surgiram as sociedades hierárquicas que as pessoas dentro delas começaram a conceber a anarquia como uma alternativa séria. Algumas, como os antigos filósofos taoístas na China, olharam para trás para uma idade sem governação, quando as pessoas viviam em paz consigo próprias e com o mundo.

Várias seitas cristãs aguardaram com expectativa a segunda vinda, quando o amor igualitário e fraternal de Cristo e dos seus discípulos triunfariam sobre o mal. Racionalistas, como Zeno, fundador do estoicismo na Grécia antiga, e mais tarde os pensadores do Renascença e do Iluminismo, previram uma nova era de luzes, em que a razão poderia substituir a coerção como a principal forma de resolver os assuntos humanos.

Apesar de nenhum destes primeiros defensores da anarquia se tenha descrito a si mesmo como anarquista, o que eles partilhavam era a oposição à autoridade coerciva e relações hierárquicas baseadas no poder, riqueza e privilégio. Em contraste com outros radicais, eles também rejeitavam qualquer papel autoritário ou de privilégio para eles próprios na luta contra a autoridade e na criação de uma sociedade livre.

Encontramos atitudes idênticas entre alguns revolucionários da era moderna. Durante a Revolução Francesa, os enragés e os radicais igualitários opuseram-se às ditaduras e governos revolucionários como sendo uma contradição nos termos, e tentaram abolir todas as distinções hierárquicas, incluindo entre governantes e governados.

Mas foi apenas por volta das revoluções de 1848 na Europa que o anarquismo começou a emergir como uma doutrina distinta.»

notas:




Um comentário:

Anônimo disse...

Obrigado por Blog intiresny