"O anarquismo defende a possibilidade de organização sem disciplina, temor ou punição, e sem a pressão da riqueza."

emma goldman

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2010/07/23

extraindo conceitos__80

QUINTA-FEIRA, 17 DE JUNHO DE 2010

Filosofia. O que penso e acredito

Prometeu Acorrentado

Ricardo Líper

Fica difícil para a teologia justificar a morte. Que Deus é esse, descrito como a bondade e a justiça em si, que cria seres para morrer? Como um Deus bonissimo mata o que cria? Na maioria das vezes matando com um sofrimento atroz, com requintes de crueldade para quem morre e para os entes queridos que ficam esperando a sua vez.

Essa contradição no seio da teologia a liquida. Parece-me sensato admitir que seja a morte dos seres existentes, supostamente criados por Deus, uma das provas da sua inexistência. A não ser que se admita um Deus malévolo, satânico, que criou o mundo por maldade e o homem a sua imagem e semelhança. Algumas vezes fico tentado a acreditar nessa versão.

Já Schopenhauer acertou na mosca quando escreveu que a natureza é regida por uma vontade cega e sem sentido, existindo para se multiplicar aleatoriamente. O única finalidade é permanecer existindo através de todos os seres sem nenhum objetivo.

As criaturas que cria ela descarta depois de usar truques como pequenos e efêmeros prazeres para que elas se reproduzam e depois envelheçam e morram. A vontade, quando um ser morre, continua nesse processo insano e sem lógica nos outros seres porque ela está em todos.

Os que morrem não alteram a maneira de ser da vontade, ao contrário, fazem parte dela que os descarta após terem se reproduzido ou em outros seres. O único destino desses seres é se reproduzirem e depois morrerem. Vêem ao mundo para se replicarem para nada em um círculo vicioso sem sentido orquestrado por uma vontade sem nenhum objetivo a não ser manter-se viva para nada.

Sartre chega a conclusões próximas as de Schopenhauer sobre a condição humana. Ele mostra que somos uma
consciência que é jogada no mundo. Livre porque consciência (um ser para si), mas uma paixão inútil. Ela ao perceber o absurdo da condição humana gera a angústia, náusea, desespero.

E aí estamos no cerne da questão: nós somos seres dotados de consciência.

E a consciência dialoga com o mundo e com nós mesmos enquanto corpo mortal e natural. A consciência filosofa. A consciência se angustia.

Schopenhauer depois de descrever as artimanhas da vontade chega a renunciar aos prazeres do mundo e ver na consciência o instrumento pelo qual podemos escapar da
vontade. Sugere que consciência pode vencer a vontade da natureza pelo ascetismo. Barrando todos os truques (desejos) que a vontade utiliza usando nosso organismo, fruto da natureza cuja essência é a vontade, para nos iludir e fazer sofrer.

Sugere a busca de uma paz para além do véu de maia. A renúncia aos prazeres do mundo, como propôs Schopenhauer, para resolver o absurdo da condição humana não me convence. A renúncia como estratégia circunstancial tem algum valor, mas, como meta de vida, não.

Para mim foram os antigos gregos, não necessariamente todos os seus filósofos, que deram a melhor solução. Eles disseram nas suas tragédias e estabelecaram na sua prática. O homem se afirma como homem quando luta contra seu destino. Seu destino é essa condição humana denunciada por Schopenhauer e Sartre séculos depois que eles a intuíram magistralmente.

Esse é o espírito da tragédia grega. A luta do homem contra um destino que o irá vencer no final. Entretanto, o homem, mesmo sabendo que será vencido, luta assim mesmo e, ao fazê-lo, afirma-se como homem. Inclusive vive se preparando diariamente para lutar, através do agoge (treinamento) para chegar ao areté (excelência), se afirma como homem.

Prometeu desafiou os Deuses para se afirmar como homem. Daí minha admiração por Esparta e pelos gregos antigos. Só então você entende o haquiri dos samurais e o de Yukio Mishima.

Querendo ou não parte da humanidade sempre seguiu essa maneira grega de enxergar o mundo e o homem. Quer na ciência, nas mudanças sociais e em tudo aquilo que nos faz enfrentar o destino aleatório e sem sentido que a nossa condição humana nos condena. Esse é o otimismo e humanismo que acredito.

Marx e Bakunin deram suas contribuições para nos fornecer os fundamentos e as estratégias para as mudanças sociais.

E Nietzsche?
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