"O anarquismo defende a possibilidade de organização sem disciplina, temor ou punição, e sem a pressão da riqueza."

emma goldman

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2010/07/29

extraindo conceitos

Como foram constituídas as formas de obediência do presente?

Como foi possível ao indivíduo moderno essa intensa relação estabelecida dele mesmo com práticas sistemáticas de renúncia da vontade, da liberdade e de si mesmo?

Do que procede, nas sociedades ocidentais, a prática da servidão voluntária?

São essas questões que o curso inédito de Michel Foucault, Do governo dos vivos, ajuda elucidar, revelando alguns segredos da eficácia política dos regimes liberais e neoliberais.

Desta forma, como todos os cursos de Foucault, esse também possui uma urgência política:

ao questionar como nos tornamos obedientes, encoraja-nos a pensar como ser mais livres.

A edição de um curso de Foucault sem os procedimentos de verificação adotados pelo comitê científico responsável nas edições francesas, arrisca-se a um maior número de erros.

Ao assumir os riscos de apresentar ao público os presentes excertos, os editores e tradutor não têm outra aspiração que fazer o leitor conhecer os efeitos desta impaciência de liberdade que os atravessam, desejando fortemente que a edição “oficial” venha à público o mais breve possível.

Parece-nos importante não tanto a forma, mas os efeitos da própria circulação das idéias. A esse propósito, Foucault dizia durante uma aula pronunciada em 1976, que há sempre microfones, gravadores, para as idéias circularem:

“em certos casos fica em fita, em outros casos é encontrado datilografado, algumas vezes até é encontrado nas livrarias

– então disse comigo mesmo:

sempre vai circular.”

Do governo dos vivos condensa o material de pesquisa destinado a dar suporte ao que seria o segundo volume da série História da Sexualidade.

Após publicar o primeiro volume, A vontade de saber, em 1976, o projeto inicial de Foucault era investigar as práticas de confissão do cristianismo primitivo em um segundo volume intitulado As confissões da carne.

Como é sabido, o projeto é alterado e o segundo volume da série foi ocupado pelo livro O uso dos prazeres sendo, em seguida, desdobrado em um terceiro volume, O cuidado de si.

Assim, deslocado para ocupar o quarto volume da série, As confissões da carne não foi publicado nem jamais o será, pelo fato de Foucault ter deixado seus manuscritos sem revisão e a indicação testamentária de nenhuma obra póstuma.

Este fato torna o curso a única possibilidade de conhecer, ao lado dos Ditos e Escritos, as inquietações e incertezas de Foucault concernentes ao que foi chamado de longo silêncio estabelecido entre a publicação do primeiro e segundo volumes da série História da Sexualidade.

Portanto, são inúmeras as razões para desejar que a edição “oficial” do curso venha à público na maior brevidade possível. Por enquanto, o leitor poderá se aventurar nos excertos que ora apresentamos.

Os editores

CENTRO DE CULTURA SOCIAL - S.P. & ROBSON ACHIAMÉ EDITOR - R.J.

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