Como foi possível ao indivíduo moderno essa intensa relação estabelecida dele mesmo com práticas sistemáticas de renúncia da vontade, da liberdade e de si mesmo?
Do que procede, nas sociedades ocidentais, a prática da servidão voluntária?
São essas questões que o curso inédito de Michel Foucault, Do governo dos vivos, ajuda elucidar, revelando alguns segredos da eficácia política dos regimes liberais e neoliberais.
Desta forma, como todos os cursos de Foucault, esse também possui uma urgência política:
ao questionar como nos tornamos obedientes, encoraja-nos a pensar como ser mais livres.
A edição de um curso de Foucault sem os procedimentos de verificação adotados pelo comitê científico responsável nas edições francesas, arrisca-se a um maior número de erros.
Ao assumir os riscos de apresentar ao público os presentes excertos, os editores e tradutor não têm outra aspiração que fazer o leitor conhecer os efeitos desta impaciência de liberdade que os atravessam, desejando fortemente que a edição “oficial” venha à público o mais breve possível.
Parece-nos importante não tanto a forma, mas os efeitos da própria circulação das idéias. A esse propósito, Foucault dizia durante uma aula pronunciada em 1976, que há sempre microfones, gravadores, para as idéias circularem:
“em certos casos fica em fita, em outros casos é encontrado datilografado, algumas vezes até é encontrado nas livrarias
– então disse comigo mesmo:
sempre vai circular.”
Do governo dos vivos condensa o material de pesquisa destinado a dar suporte ao que seria o segundo volume da série História da Sexualidade.
Após publicar o primeiro volume, A vontade de saber, em 1976, o projeto inicial de Foucault era investigar as práticas de confissão do cristianismo primitivo em um segundo volume intitulado As confissões da carne.
Como é sabido, o projeto é alterado e o segundo volume da série foi ocupado pelo livro O uso dos prazeres sendo, em seguida, desdobrado em um terceiro volume, O cuidado de si.
Assim, deslocado para ocupar o quarto volume da série, As confissões da carne não foi publicado nem jamais o será, pelo fato de Foucault ter deixado seus manuscritos sem revisão e a indicação testamentária de nenhuma obra póstuma.
Este fato torna o curso a única possibilidade de conhecer, ao lado dos Ditos e Escritos, as inquietações e incertezas de Foucault concernentes ao que foi chamado de longo silêncio estabelecido entre a publicação do primeiro e segundo volumes da série História da Sexualidade.
Portanto, são inúmeras as razões para desejar que a edição “oficial” do curso venha à público na maior brevidade possível. Por enquanto, o leitor poderá se aventurar nos excertos que ora apresentamos.
Os editores
CENTRO DE CULTURA SOCIAL - S.P. & ROBSON ACHIAMÉ EDITOR - R.J.
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