E a questão essencial que se coloca aos anarquistas é esta:
“Admitindo que vossa sociedade seja realizável, como passareis do sonho à realidade? Por que meios esperai transformar o mundo?”
Não se pode edificar uma nova sociedade senão sobre as ruínas da antiga sociedade. Transformar o mundo supõe a destruição radical do passado.
Os anarquistas que sempre combateram o engodo do sufrágio universal e a farsa eleitoral, não podem, com certeza, pensar que uma nova sociedade nascerá de algumas reformas anódinas penosamente arrancadas no âmbito da democracia parlamentar.
O socialismo “no poder” não pode modificar as estruturas profundas da sociedade, mudar o sistema de propriedade, pôr um termo definitivo na política de armamento e no militarismo.
Se a via reformista não conduz a nada, deve-se concluir ingenuamente:
“Não há outra coisa a fazer senão a revolução”?
Que revolução, com quem e por quê?
A época do romantismo revolucionário e das barricadas passou. Desde 1917, todas as revoluções fracassaram (Ucrânia, Espanha) ou serviram a minorias dizendo-se de “vanguarda” para tomar o poder, conservá-lo por todos os meios opressivos próprios aos Estados e aos exércitos.
O proletariado, em nome do qual se dizia exercer a ditadura, escapou de uma servidão para cair numa outra ainda pior. O novo poder conservou todas as taras do antigo, com a mentira e a hipocrisia a mais.
Os anarquistas jamais aspiraram a tomar o poder e os exemplos da Ucrânia e da Espanha mostram muito bem que se associar aos futuros ditadores é um autêntico suicídio. Nessas pretensas revoluções, os anarquistas só podem ser contra-revolucionários.
Mas então, nem socialismo “à francesa”, nem comunismo “à russa”?
A sociedade anarquista só pode nascer por um amplo sobressalto popular — uma revolta e não uma revolução, para retomar a terminologia de Stirner — por ocasião de uma grave crise econômica e política que colocará a questão:
sobreviver ou desaparecer.
Diante das falências sucessivas do liberalismo, do socialismo reformista e do pretenso comunismo, só restará a solução anarquista e talvez os anarquistas sejam capazes de engajar — e não dirigir — uma corrente popular que se beneficiará da neutralidade da massa dos indiferentes e dos resignados.
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