"O anarquismo defende a possibilidade de organização sem disciplina, temor ou punição, e sem a pressão da riqueza."

emma goldman

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2010/12/07

extraindo conceitos

por Jacques Monod*

Em três séculos, a ciência, fundada pelo postulado de objetividade, conquistou seu lugar na sociedade:

na prática, mas não nas almas.

As sociedades modernas são construídas sobre a ciência.

Devem-lhes sua riqueza, seu poder e a certeza de que riquezas e poderes bem maiores, amanhã, ainda serão, caso ele queira, acessíveis ao Homem.

Mas também, assim como uma “escolha” inicial na evolução biológica de uma espécie pode engajar o futuro de toda a sua descendência, assim a escolha, inconsciente em sua origem, de uma prática científica lançou a evolução da cultura num caminho em sentido único; trajeto que o progressismo cientista do século XIX via desembocar infalívelmente num desabrochamento prodigioso da humanidade, ao passo que hoje vemos cavar-se diante de nós um abismo de trevas.

As sociedades modernas aceitaram as riquezas e os poderes que a ciência descobria para elas. Mas não aceitaram, mal a ouviram, a mais profunda mensagem da ciência:

a definição de uma nova e única fonte de verdade, a exigência de uma revisão total dos fundamentos da ética, de uma ruptura radical com a antiga tradição animista ["Todas as coisas são vivas", "Todas as coisas são conscientes" , ou "Todas as coisas têm ânima"], o abandono definitivo da “antiga” aliança, a necessidade de forjar uma nova.

Armadas de todos os poderes, gozando de todas as riquezas que devem à Ciência, nossas sociedades ainda tentam viver e ensinar sistemas de valores já destruídos na raiz por essa mesma ciência.

Nenhuma sociedade antes da nossa conheceu uma dilaceração semelhante.

* o acaso e anecessidade, de jacques monod; editora vozes; 1972

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