DOMINGO, 12 DE DEZEMBRO DE 2010
Resenha: Discurso da Servidão Voluntária
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Há alguns posts atrás algum de nossos visitantes comentou sobre o livro Discurso da Servidão Voluntária, de Étienne de La Boétie. Pedi a um dos nossos mais assíduos colaboradores (comentando em nossas postagens) que fizesse uma resenha sobre o livro, e ele aceitou a sugestão. Hoje trazemos aqui essa colaboração feita com exclusividade para este blog.
Vejam ai. E até a Quarta-Feira que vem.
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Os séculos XV e XVI são marcados pela expansão territorial; novas fronteiras são abertas e surgem novos ‘povos’ com perfis civilizatórios que colocam em xeque o modo de vida do mundo dito conhecido.
O mundo ocidental e a sua busca incansável pela autoridade referendada sempre no UM; seja ele o deus monoteista na religião, seja o estado absolutista na ciência política e/ ou a escritura como a única verdade crível no mundo do conhecimento (só vale o que está escrito, seja na lei secular, na fé ou na ciência).
Indo um pouco mais além, podemos afirmar que esses ‘mundos’ ao entreolharem-se se declararam – logo de imediato – como inconciliáveis e antagônicos nos seus desenvolvimentos civilizatórios...
Nesse instante o choque civilizatório se fez presente e perdurou pela opressão dos mercadores de especiarias (temperos aromáticos), sedas, chás, alucinógenos, metais e cristais preciosos etc.
Visto que a autoridade – tão querida aos ocidentais – não se permitia ao luxo do convívio com a liberdade sem adjetivações; fortalecendo, por isso, a ingerência protetora da lei, da fé e ou da ciência nas relações societárias.
Étienne de La Boétie (1º. de novembro de 1530 — 18 de agosto de 1563) escreve, entre os 16 ou 18 anos, seu panfleto/ ensaio sobre o ‘discurso da servidão voluntária’.
E nele tenta encontrar respostas para a questão da submissão a que o homem ocidental se submetia cega e voluntariamente, e que dessa submissão retirava para si prazeres e regozijos como súditos do rei, da lei e de deus.
Como nos esclarece La Boétie:
“Da razão que nasce conosco ou não, o que é uma questão debatida a fundo pelos acadêmicos e abordada por toda a escola dos filósofos, por ora não pensaria falhar ao dizer o seguinte:
há em nossa alma alguma semente natural de razão que, mantida por bom conselho e costume, floresce em virtude e, ao contrário, freqüentemente sufocada, aborta, não podendo enfrentar os vícios sobrevindos.”
Faz-se necessário, portanto, interrogarmos por que se aceitar prestimosamente a dominação do UM (deus, rei e/ ou a lei) contra todos (indivíduo ou coletivo)?
Visto que, nas palavras de La Boétie,
"É natural no homem o ser livre e o querer sê-lo; mas está igualmente na sua natureza ficar com certos hábitos que a educação lhe dá"
Isso se dá, portanto, através da negação/ servidão do indivíduo pela educação que lhe é imposta, que passa a comungar, idolatrar e referendar a concentração do poder político e, também, o financeiro nas mãos de alguns poucos.
E esses poucos beneficiários do poder concentrado tomam para si, como uso restrito, a função tecnológica de governamentalidade, isso através da normalização das relações de poder entre a autoridade constituída e a sociedade, e desta consigo mesma:
organizar, administrar e, portanto, dominar – disciplinar e controlar – a sociedade; perpetuando esta forma de exploração ad infinitum.
É premente que tentemos, como afirma o cientista político Edson Passetti (PUC - São Paulo), “...compreender o mal imanente à autoridade e recuperar a confiança na liberdade.”
Liberdade esta sem os adjetivos limitadores de sua expressão máxima, como nos indica o pensamento político do jovem estudante francês, La Boétie:
"Decidi-vos a não servir mais, e serei livres."
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