"O anarquismo defende a possibilidade de organização sem disciplina, temor ou punição, e sem a pressão da riqueza."

emma goldman

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2011/02/14

extraindo conceitos


Sou um amante fanático da liberdade, considerando-a o único meio onde possam desenvolver e crescer a inteligência, a dignidade e a felicidade dos homens; não dessa liberdade completamente formal, ortogada, medida e regulamentada pelo Estado, mentira eterna e que, na realidade, só representa, sempre, o privilégio de alguns fundado na escravidão de todos; não dessa liberdade individualista, egoísta, mesquinha e fictícia, pregada pela Escola de J.-J. Rousseau, bem como por todas as outras Escolas do liberalismo burguês, e que considera o pretenso direito de todos, representado pelo Estado como limite do direito de cada um, o que resulta necessariamente e sempre na redução do direito de cada um a zero.


Não, entendo a única liberdade que seja verdadeiramente digna desse nome, a liberdade que consiste no pleno desenvolvimento de todas as potências materiais, intelectuais e morais que se encontram em estado de faculdades latentes em cada um; a liberdade que não reconhece outras restrições senão aquelas que nos são traçadas pelas leis de nossa própria natureza; de sorte que, para ser exato, não existem restrições, visto que essas leis não nos são impostas por qualquer legislador de fora, residindo ao lado ou acima de nós.


Elas nos são imanentes, inerentes e constituem a própria base de todo o nosso ser, tanto material como intelectual e moral. Em vez de encontrar para elas um limite, devemos considerá-las as condições reais e a razão efetiva de nossa liberdade.


Entendo essa liberdade de cada um que, longe de deter-se como que diante de um limite ante a liberdade alheia, encontra ali, ao contrário, sua confirmação e sua extensão ao infinito; a liberdade ilimitada de cada um pela liberdade de todos, a liberdade pela solidariedade, pela liberdade na igualdade; a liberdade triunfante sobre a força brutal e o princípio de autoridade, que foi sempre só a expressão ideal dessa força; a liberdade que, depois de ter derrubado todos os ídolos celestes e terrestres, fundará e organizará um novo mundo, aquele da humanidade solidária, sobre as ruínas de todas as Igrejas e de todos os Estados.


Sou um partidário convicto da igualdade econômica e social, porque sei que fora dessa igualdade, a liberdade, a justiça, a dignidade humana, a moralidade e o bem-estar dos indivíduos, tanto quanto a prosperidade das nações, serão sempre mentiras.


Todavia, embora partidário da liberdade, essa condição primeira da humanidade, penso que a igualdade deve estabelecer-se no mundo pela organização espontânea do trabalho e da propriedade coletiva, das associações produtoras livremente organizadas e federalizadas nas comunas, mas não pela ação suprema e tutelar do Estado.


 in: bakunin: o princípio do estado e outros ensaios; tradução plínio augusto coêlho; editora hedra; págs. 114, 115 e 116.

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