"O anarquismo defende a possibilidade de organização sem disciplina, temor ou punição, e sem a pressão da riqueza."

emma goldman

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2011/02/16

extraindo conceitos

DOMINGO, 28 DE MARÇO DE 2010

Teletelas, Big Brothers e a Tecno-Democracia


por   carlos baqueiro
(nosso correspondente no mundo acadêmico)

Quem desejaria em sã consciência uma pequena “teletela” orwelliana em seu bolso, na figura de um celular de terceira geração? Por que devemos aceitar tranquilamente que câmeras estejam a cada esquina direcionadas as nossas ações mais particulares?

Alguns chamam a esta sensação de que todas estas questões nem precisam ser respondidas de naturalização de processos que na realidade são históricos, e têm uma origem, um objetivo.

É preciso analisar onde está nos levando todo este processo de naturalização das tecnologias de controle e vigilância. Nortear-se através de uma ética humanista neste momento é mais do que necessário.

Na ditadura imposta pelo Ingsoc do livro de 1984 as pessoas não tinham muitas opções, nem qualquer direito a negar o que o Partido do Grande Irmão (Big Brother) desejava. 


Mas hoje ainda temos um pouco de possibilidades de resistir. E para isso é importante que entendamos um pouco o que é realmente o mundo em que vivemos.
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Primeiro de tudo percebermos que este é um mundo que tem história, onde alguns mandam, outros obedecem, e alguns ainda resistem. 


Mas isto não começou devido a uma ordem transcendental vinda do Cosmos. Como dizia o filósofo francês Michel Foucault:

a verdade é deste mundo; ela é produzida nele graças a múltiplas coerções e nele produz efeitos regulamentados de poder. 


Cada sociedade tem seu regime de verdade, sua 'política geral' de verdade: 


isto é, os tipos de discurso que ela acolhe e faz funcionar como verdadeiros...

Se o atual regime de verdade nos direciona a acreditar na inexorabilidade do poder tecnológico, então tentemos compreender este regime e façamos com que mude. 


É possível mesmo usar toda parafernalha de convergência existente para mudar a atual “política geral” de verdade, particularmente através de trabalhos colaborativos, de pesquisa, propaganda e ação, e desenvolver uma via democrática para a inteligência coletiva, termo criado por outro filósofo, Pierre Levy.

Entender que as técnicas não determinam nada sozinhas, como percebe o próprio Pierre Levy, já é um bom começo. 


É necessário que todos possam compreender que as técnicas resultam de contextualizações e subjetivações históricas definidas e nada é inexorável na história.

Levy também sustenta que nunca poderemos ter respostas absolutas às questões do conhecimento coletivo. 


Mas, ao contrário, sempre podemos desejar um mundo melhor para todos e procurar outras razões que não as do lucro, e outras belezas que não a do espetáculo, em busca do que ele chama de Tecno-Democracia.

Mas isto não acontecerá, afirma Levy, a menos que renunciemos previamente à idéia de uma tecnociência autônoma, regida por princípios diferentes daqueles que prevalecem em outras esferas da vida social.

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