"O anarquismo defende a possibilidade de organização sem disciplina, temor ou punição, e sem a pressão da riqueza."

emma goldman

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2011/10/13

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O Seminário 


A era do panóptico





na próxima sexta-feira (13/ out) e sábado (14/ out)




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Eis o Panóptico



Primeiras Definições:




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No final do Séc. XVIII o filósofo e jurista inglês Jeremy Bentham concebeu pela primeira vez a ideia do panóptico. Para isto Bentham estudou “racionalmente”, em suas próprias palavras, o sistema penitenciário. Criou então um projeto de prisão circular, onde um observador poderia ver todos os locais onde houvesse presos. Eis o panóptico.
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Ele também observou que este mesmo projeto de prisão poderia ser utilizado em escolas e no trabalho, como meio de tornar mais eficiente o funcionamento daqueles locais.
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Foi naquele período da história que, segundo o francês Michel Foucault, iniciou-se um processo de disseminação sistemática de dispositivos disciplinares, a exemplo do panóptico. Um conjunto de dispositivos que permitiria uma vigilância e um controle social cada vez mais eficientes, porém, não necessariamente com os mesmos objetivos “racionais” desejados por Bentham e muitos de seus antecessores e contemporâneos .
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Dos anos 60, do Séc. XX, quando Foucault escreveu suas primeiras obras, até o início do Séc. XXI, novas tecnologias de comunicação e informação surgiram, permitindo novas formas de vigilância que por vezes se tornam tão dissimuladas que não são facilmente percebidas pelos indivíduos. Tornam-se também naturalizadas, não deixando claros todos os objetivos de quem se utiliza daquelas novas técnicas de vigilância.
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Nestes novos tempos a vigilância também vem adquirir uma nova característica. A possibilidade de observação de todos sobre todos. Hoje é possível ao patrão ler mensagens de correio eletrônico de seu empregado, mas também existe a possibilidade de colegas lerem mensagens de colegas, maridos de esposas, pais de filhos, a partir de ferramentas gratuitas disponíveis na Internet, por exemplo.
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Empresas conseguem, a partir de celulares, monitorar o local onde se encontram seus empregados. Governos e crackers podem, com o instrumental adequado, ter as informações bancárias de qualquer cidadão, a partir de banco de dados individuais (como aqueles referentes a antiga CPMF, por exemplo) e câmeras digitais vigiam cada metro quadrado de aeroportos.
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O panóptico se disseminou. E como afirmou enfaticamente em meados dos anos 90 outro filósofo francês, Giles Deleuze, isso gerou a criação de uma Sociedade de Controle.
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É a partir deste quadro que se considera interessante a existência de um veículo de comunicação que dê visibilidade ao tema Vigilância e Controle Social. A partir de uma mídia que ajude a suprir a demanda de conhecimento sobre aquele tema.
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Dessa forma a criação de um novo veículo de comunicação teria os objetivos de difundir, debater, e ampliar uma discussão sobre o tema que permita às pessoas a compreensão sobre o funcionamento dos dispositivos disciplinares e da Sociedade de Controle.


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O Panóptico Aqui e Agora



É possível imaginarmos o que queria realmente Jeremy Bentham quando fez seus projetos do Panóptico ?
Consertar a humanidade ? Possibilitar aos presos uma redenção e retorno à sociedade ? Transformar alunos inquietos em Homens e Mulheres disciplinados ?
É bem provável que ele desejasse tudo isso. E muito mais.
Ele perdeu quase todo seu dinheiro (herança, salário, poupança) tentando construir edifícios (penitenciárias) que mostrassem à sociedade da época (final do Séc.XVIII) que ele estava certo. Que a partir da vigilância e do controle na medida certa o funcionamento de prisões, escolas, hospícios seria muito mais eficiente.
Podemos até entendê-lo como um antecessor de behavioristas como Pavlov ou B.F.Skinner. Em um dos seus textos sobre a vigilância nas escolas ele demonstra como acreditava de verdade na possibilidade de maior aprendizado para alunos que perceberiam a vigilância e fariam o que tinha de ser feito na hora determinada: Estudar na hora de estudar, brincar na hora de brincar.
Em alguns dos vídeos reportagens que já postei aqui dá para ver como alunos respondem aos repórteres de forma a entendermos que a grande quantidade de câmeras nas escolas faz com que alunos inquietos se “acalmem”, “melhorando” o ambiente escolar.
Então, é possível afirmar que Bentham estava certo? Na sua ânsia racionalista ele percebeu que o ser humano tem de ser vigiado e controlado para que a sociedade consiga progredir?
Vigilância, Controle, Motivação, Punição, Agrado, Disciplina… são estas as palavras chaves para uma sociedade melhor?
Vocês podem até dar risadas… mas tive a ideia deste texto ontem a noite… depois de assistir a mais um “paredão” do BBB10…
Milhões de votos de observadores anônimos de uma espécie de Panóptico quase perfeito privilegiaram uma das participantes. Um dia antes a mesma participante havia descaradamente e deliberadamente montado um esquema para “sujar” a imagem da sua concorrente. Mas alguns dias antes a mesma participante dava o “colar de anjo” para a mesma que estava ali sendo ultrajada por suas palavras…
Ou seja, o Panóptico quase perfeito, desesperadamente desejado por Bentham há mais de 200 anos atrás, permite que milhões de pessoas vigiem e controlem pessoas que provavelmente nem inibem, nem reforçam sua melhores ou piores qualidades.
Um Panóptico que nem melhora, nem piora a sociedade… apenas sinaliza continuidades e descontinuidades.
Que apenas projeta a sombra da própria sociedade.

Aliás como qualquer Panóptico, infelizmente para os sonhos de Bentham. Infelizmente também para nós que a cada dia que passa vemos mais Panópticos sendo construídos. Sem qualquer certeza de melhoria da humanidade…

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"Existem fortes interesses econômicos explorando a indústria do medo. Uma população amedrontada, além do enorme potencial de consumo dessas quinquilharias de monitoramento eletrônico, também é presa fácil de todas as formas de sujeição. Por medo, pessoas abrem mão da privacidade e se entregam à polícia, empresas de segurança e outros mecanismos de controle."

comentário de Alberto Centurião in   "Nova Análise de Reportagem"


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"Não podemos esquecer que o próprio jornalismo se alimenta dessas informações capturadas por câmeras escondidas e, principalmente, por nossos celulares. Estamos sempre dispostos a pegar lances pessoais alheios, para divulgar a privacidade do outro como mercadoria pública. O que é sigiloso torna-se o mais consumido pelo grande público e consequentemente mais rentável para os diversos meios de comunicação. O interessante é que quando somos, inesperadamente, o foco, a peça posta em exposição, retrucamos e partimos para a briga. Nessa industria do medo, hipócritas compram, vendem, consomem e se ofendem."

comentário de Anderson Souza in "A Indústria do Medo"


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Programação do Seminário

 

A ERA DO PANÓPTICO



Dia 14 de Outubro (Sexta-Feira).
14:00 horas – Abertura – Eduardo Nunes (PPGEduC).
14:30 horas – André Lemos – Mídia Locativa e Vigilância. Sujeito Inseguro, Bolhas Digitais, Paredes Virtuais e Territórios Informacionais.
15:30 horas – Ana Godoy e Nildo Avelino – Educação, Meio Ambiente e Cultura: Alquimias do Conhecimento na Sociedade de Controle.
16:30 horas – Debate.
17:00 horas – Lançamento da 2ª Edição do Livro  “Do governo dos vivos”  de Michel Foucault, Organizado por Nildo Avelino.
Dia 15 de Outubro (Sábado).
09:00 horas – Abertura.
09:30 horas – Carlos Baqueiro – O Blog A Era do Panóptico: Pesquisa e Resistência à Sociedade de Controle.
10:30 horas – Ricardo Liper – A Sociedade Orwelliana em 1984.
11:30 horas – Debate.
12:00 horas – Encerramento do Seminário.

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