"O anarquismo defende a possibilidade de organização sem disciplina, temor ou punição, e sem a pressão da riqueza."

emma goldman

........

2009/02/07

extraindo conceitos

Crise, crise e toma-lhe mais crises...

A crise instalou-se na economia formal com uma vertiginosa e acentuada queda da produção industrial, e caminha a passos largos para açambarcar também a economia informal onde os pobres teimam em sobreviver à duras penascom o seu crescente número de desempregados, despossuídos, inadimplentes e outros párias deste sistema excludente...

Qual é a opinião dos anarquistas, o que estão fazendo para encaminhar – por searas não-centralizadoras e não-autoritárias – as alternativas de uma nova convivência societária, que devem planar o mais próximo possível da plena liberdade política, da máxima igualdade econômica e, lógico, da imprescindível fraternidade entre homens e mulheres amantes da boa vontade e do bem viver, por fim uma sociedade libertária?

Já que o senso comum dos mais afoitos clama por ações emergenciais e pungentes de controle da economia, ensejadas pelas mãos nefastas dos estados nacionais, quiçá até do Novo Estado Mundial que já está se forjando nos extenso labirinto do poder institucionalizado (dólar, yen, yuan, euro, libra, etc.) dos senhores dos anéis multicoloridos!

Portanto, nestes momentos de mais uma crise em que o ‘comportamento de rebanho’ é a primeira alternativa a ser vislumbrada, ‘colocamos’ para reflexão um pequeníssimo extrato da ampla e criativa (toda propriedade é um roubo!) produção teórica do 'pai do anarquismo', o francês proudhon:


10 PROPOSIÇÕES CONTRA A PROPRIEDADE DOS MEIOS DE PRODUÇÃO
por Pierre-Joseph Proudhon

Terminei a obra que me propus; a propriedade está vencida; nunca mais se reerguerá. Em toda parte onde este discurso for lido e comunicado ficará depositado um germe de morte para a propriedade: ali, cedo ou tarde, desaparecerão o privilégio e a servidão; ao despotismo da vontade sucederá o reino da razão. Com efeito, que sofismas, que obstinação preconceituosa se sustentariam perante a simplicidade destas proposições?:

I. A posse individual [dos meios de produção] é a condição da vida social; cinco mil anos de propriedade o demonstram: a propriedade é o suicídio da sociedade. A posse [dos meios de produção] está dentro do direito; a propriedade opõe-se ao direito. Suprimi a propriedade e conservai a posse [dos meios de produção]; e, só com essa alteração no princípio, mudareis tudo nas leis, o governo, a economia, as instituições: expulsareis o mal da terra.

II.
Como o direito de ocupar é igual para todos, a posse [dos meios de produção] varia de acordo com o número de possuidores; a propriedade não pode se formar.

III.
Como o resultado do trabalho é o mesmo para todos, a propriedade se perde com a exploração estranha e o aluguel.

IV.
Como todo trabalho humano resulta necessariamente de uma força coletiva, toda propriedade se torna, pela mesma razão, coletiva e indivisa: em termos mais exatos, o trabalho destrói a propriedade.

V. Como toda capacidade de trabalho constitui, como todo instrumento de trabalho, um capital acumulado, uma propriedade coletiva, a desigualdade de ganho e fortuna, sob pretexto
de desigualdade de capacidade, é injustiça e roubo.

VI. O comércio tem como condições necessárias a liberdade dos contratantes e a equivalência dos produtos trocados: ora, como o valor tem por expressão a soma de tempo e de despesa que cada produto custa, e sendo a liberdade inviolável, os trabalhadores são necessariamente iguais em salários como o são em direitos e deveres.

VII.
Os produtos só se compram com produtos: ora, como a condição de toda troca é a equivalência dos produtos, o lucro é impossível e injusto. Observai esse princípio da mais elementar economia e o pauperismo, o luxo, a opressão, o vicio, o crime desaparecerão de entre nós juntamente com a fome.

VIII.
Os homens são associados pela lei física e matemática da produção, antes de sê-lo por livre assentimento: portanto, a igualdade das condições é de justiça, isto é, de direito social, de direito estrito; a estima, a amizade, o reconhecimento, a admiração se prendem ao direito equitável ou proporcional.

IX. A associação livre, a liberdade, que se limita a manter a igualdade nos meios de produção e a equivalência nas trocas, é a única forma possível de sociedade, a única justa, a única verdadeira.

X. A política é a ciência da liberdade: o governo do homem pelo homem, não importa o nome com que se disfarce, é opressão; a perfeição máxima da sociedade reside na união da ordem e da anarquia.

É chegado o fim da antiga civilização; sob um novo sol, a face da terra se renovará. Deixemos uma geração extinguir-se, deixemos perecerem no deserto os velhos prevaricadores: a terra santa não cobrirá seus ossos. Jovem, que a corrupção do século indigna e o zelo da justiça devora, se amais a pátria e vos preocupais com a humanidade, ousai abraçar a causa da liberdade.

*Transcrito do livro
O que é a Propriedade", de Pierre-Joseph Proudhon

leia mais, saiba mais:
http://brasil.indymedia.org/media/2007/07//387423.pdf

4 comentários:

Diogo disse...

que assim seja...

Anônimo disse...

proudhon, assim conclui

"Se eu tivesse que responder à seguinte pergunta: O que é a escravidão? e respondesse numa palavra: É o assassinato, meu pensamento seria imediatamente compreendido. Não teria necessidade de um discurso muito longo para mostrar que o poder de espoliar o homem do pensamento, da vontade, dá personalidade, é um poder de vida e morte, e que escravizar um homem é assassiná-lo. Por que, então, a esta outra pergunta: O que é a propriedade? não posso responder da mesma forma: É o roubo, sem ter a certeza de que não serei compreendido, embora essa segunda proposição não seja mais que a primeira transformada?"

Anônimo disse...

JEFFREY ARNOLD SHANTZ:

”Nos últimos anos, as manifestações dramáticas de anarquistas durante fóruns econômicos globais e convenções de partidos políticos têm obtido muita atenção da mídia. Infelizmente, além das abordagens largamente sensacionalistas desses meios de comunicação, que descrevem anarquistas como encrenqueiros violentos, muito pouco se sabe sobre quem eles são, o que pensam ou a que suas políticas realmente dizem respeito, deixando obscurecidas as atividades de um grande e crescente movimento contemporâneo. As práticas construtivas desenvolvidas diariamente pelos ativistas anarquistas à procura de um mundo livre da violência, da opressão e da exploração perdem-se em abordagens sensacionalistas. O exame de alguns desses projetos anarquistas construtivos proporciona uma compreensão de tentativas do mundo real de desenvolver relações sociais pacíficas e criativas no aqui e agora da vida diária. Apesar da associação feita pela mídia entre anarquismo e violência, iniciativas anarquistas contemporâneas têm se dirigido basicamente à mudança social pacífica por meio da construção de novas comunidades e instituições.”

Anônimo disse...

Lewis Mumford :

“O capitalismo como método de negócios e como hábito de vida solapou as instituições medievais em muitos pontos. Porém o seu maior desafio foi contra os padrões éticos e as noções que definiam uma vida de santidade e decoro. A personalidade capitalística, orientada no sentido do interesse individual e do ganho, era a antítese da mentalidade do cristão, que procurava amar ao próximo como a si mesmo; pode-se mesmo acrescentar que, para o moralista da Idade Média, não havia grande diferença entre o capitalista e um criminoso. 'Misericórdia! Quanta gente existe que se bate e porfia [rivalidade, competição, disputa] pelo sórdido lucro e obtém afinal esse lucro sórdido!' exclama Bertoldo de Regensburgo. 'Velhacos são eles em seu comércio e seu ofício; ladrões e ladras, dentro de casa como fora, prestamistas sob penhores, agiotas, e açambarcadores para que comprem mais barato.' A Bertoldo não teria chocado a afirmação de Proudhon de que a propriedade era o roubo. Aliás, já no tempo de Dante, segundo informa Vossler, era uma frase corrente na Itália que todo homem rico ou tinha praticado injustiça ou era herdeiro de alguém que a tivesse praticado.”