"O anarquismo defende a possibilidade de organização sem disciplina, temor ou punição, e sem a pressão da riqueza."

emma goldman

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2009/02/19

extraindo conceitos

Os Senhores dos Anéis – liberais, fascista ou outra praga qualquer – acreditam de forma messiânica na 'competitividade do mercado' para a resolução dos entraves estruturais, que se explicitam no acúmulo das riquezas em pouquíssimas mãos e, por desdobramento, no infinito contingente de excluídos do processo de produção e uso fruto da riqueza que é resultado do trabalho de todos.

A solução, por eles proposta, se aplica na imediata redução dos salários, seja diretos e/ ou indiretos (assistência médica, auxílio educacional etc.), e também do aumento da jornada de trabalho, tendo como consequência direta o crescimento exponencial nos batalhões de desempregados, que doravante circularão pelas cidades e campos em busca de novas alternativas em vista à sua inclusão no mundo dos 'informais', 'ilegais', 'párias', 'marginais', 'transgressores' etc.

Esta é, para esses visionários 'defensores da livre iniciativa' como intrumento de exploração do próximo, a única possibilidade viável para resolver ‘as crises’ geradas pela própria competição egoísta do acumulo desenfreado de quinquilharias, e que é majoritária e reinante no mercado produtivo do sistema capitalista. Resaltamos que a única voz que se ouve com alguma presteza nesta 'selva de pedra' é a do 'compra-se' e 'vende-se'.

Nos outros – os anarquistas, socialistas anti-autoritários – acreditamos que devemos focar nossas forças para as lutas sobre os princípios da colaboração entre os envolvidos na gestão da coisa pública, no apóio mútuo do sistema de convivência societário e na partilha das riquezas produzidas por todos, mas que são subtraidas para serem acumuladas pela ganância dos abutres capitalista...

E para que o ‘novo’ sistema igualitário não venha a ser corrompido pelos algozes de sempre, a melhor solução já encontrada, e confirmada algumas vezes pela prática revolucionária, é garantir a fala/ voz de todos os envolvido diretamente nos problemas. Portanto, a idéia básica é agirmos de forma assembleísta e horizontal, sem intermediários e/ ou beócios iluminados que teimam em 'interpretar' os desejos alheios. a Nossa lógica é simples: cada um pensa e fala por si, e age coletivamente numa grande confraria solidária!!!

Até aqui temos contemplado a assembléia como instrumento do qual não podem abrir mãos os homens para levar a cabo conjuntamente a organização de suas instituições e o alcançar uma administração mais justa sobre os bens coletivos.

Mas a assembléia tem implícita em si uma função que poderíamos qualificar de educadora e que tem sido insuficientemente explorada até hoje, pese os interesses que a dinâmica de grupo tem suscitado nos últimos 30 anos e pese, assim mesmo, os ensinamentos que poderiam extrair de todo o Movimento Libertário e especialmente da CNT que fincou suas raízes na experiência coletivizadora que nos ocupa.

Referindo-nos concretamente ao Movimento Libertário espanhol, ao pouco que o historiador se propunha, descobrirá nele um fenômeno realmente extraordinário, único até o fechamento da história universal do sindicalismo obreiro e muito pouco conhecido à fundo por várias razões: pelas circunstâncias de freqüente clandestinidade em que teve desenvolver-se desde suas primeiras discussões, pela intoxicação policial de que foi objeto tantas vezes e pelo desdém com que os intelectuais espanhóis em geral tem contemplado sempre o povo trabalhador, ignorando ou minimizando o alcance de suas realizações no acervo sociocultural.

Consiste esse fato singular no grande número de personalidades relevantes que surgiram de suas filas: pensadores, escritores, oradores, enciclopedistas, alguns com uma bagagem cultural pouco comum e duplamente meritório por tela adquirida na qualidade de autodidata e de trabalhadores sujeitos a um horário e a dura repressão de que foram objeto com farta freqüência por parte da patronal e do Estado.

Resulta assim mesmo uma impressionante quantidade de revistas, folhetos, periódicos e manifestos que tem chegado a publicar este movimento desde que iniciou seu caminho nos idos do século passado, sem contar as toneladas de papel impresso que representam a celebração de seus comícios, as atas de seus congressos e conferências, as plenárias em diversos níveis – nacional, regional, comarcal e local – de todas suas federações.

Com grande parte dessa documentação tem-se podido salvar, o historiador que busque nela poderá ter uma idéia aproximada da magnitude que o dito movimento chegou a alcançar na Espanha através de sua organização sindical.

Não obstante, conhecemos muitos de seus militantes dos anos que precederam a nossa última guerra, podemos captar realmente o mérito daqueles trabalhadores, homens simples e humildes que a margem de figuras mais relevantes e prestigiosas do Movimento Libertário, souberam gravar sua mensagem.

Precisamente, era esse tipo de militante que representava a maioria e constituiu, de acordo com a estrutura federal de suas instituições, a base de todo o edifício orgânico; para qual insuflaria seu proverbial dinamismo, não com ostentações de gloria e aplausos como fazem os lideres, sim atuando discretamente e aportando a causa que defendiam no que era realmente positivo para fazê-la avançar: sentimentos solidários, uma consciência ética, um sentido profundo da liberdade e capacidade crítica.

Eram estes valores que cultivavam por cima de tudo como premissa indispensável em uma organização que descarta a autoridade e nega a obediência a patentes e mandatos oriundos de uma minoria “capacitada” e “inteligente”, e isso claro está, exigia de todos seus militantes autoconfiança para obedecer aos ditados de sua consciência e discernimento o suficiente para aprender a elaborar os próprios critérios.

* transcrito do livro Las Colectividades de Aragon, Un vivir autogestionado promesa de futuro, de Félix Carrasquer. E traduzido pela Federação Operária de São Paulo – secção campinas – e sobre a licença da Creative Commons.


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http://fosp.anarkio.net/cmanarca/cma_116.html

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