"O anarquismo defende a possibilidade de organização sem disciplina, temor ou punição, e sem a pressão da riqueza."

emma goldman

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2009/09/24

proudhon --- bicentenário

FEDERAÇÃO OU BARBÁRIE*
Paulo-Edgar Almeida Resende
e Edson Passetti


Após descrer das virtudes do poder político e negar a política como forma de liberação social, Proudhon irá recuperá-la, redefini-la, subordiná-la à organização industrial.

Ao mutualismo no nível econômico corresponde o federalismo no nível político.

A reintrodução da política no movimento de seu pensamento não altera a afirmação da autonomia com base no primado do trabalho.

Afirmada a economia mutualista de modo substantivo, adjetiva-se a política: os direitos políticos se atrelam aos direitos econômicos do trabalho coletivo. O pluralismo no nível econômico é ratificado pelo federalismo.

Abolida a estrutura hieráquica, as comunas, as unidades federadas são assumidas como núcleos de vigor próprio, e não como sucursais da matriz estatal; passam a ter, assim, direito de se administrar, de se governar, de estabelecer taxas, de dispor de recursos, de criar escolas, de escolher os professores, de se autopoliciar, de ter seus juízes, seus jornais, suas reuniões, suas sociedades particulares e inclusive de fazer suas próprias leis.

A federação não centraliza, pois não é um ponto de partida da unidade, da articulação das províncias, das comunas, mas um ponto de chegada. A vida da federação está na diversidade e na autonomia das unidades federadas. Não é a uniformização, a reconciliação total, mesmo porque, para Proudhon, isso significa o imobilismo.

A autoridade federal, portanto, carece de poder político, pelo menos no sentido clássico, embora seja chamada ao exercício de determinadas funções no lugar em que se articulam os múltipos interesses coletivos.

Tudo ocorre de modo seriado, e não por relações de influência e por continuidade. Entendidas assim as relações sociais, política é colocada em plano inferior, quando não sob suspeita de disfarce; a série autoridade busca obstruir o fluxo da liberdade. É a ilusão de caminharmos para mais infinito, quando sob ela caminhamos para menos infinito.

A liberdade, em conseqüência, não pode ser reconhecida como parte tolerável da autoridade, mas deve refazer a autoridade, buscando minar suas fontes de poder institucionalizado.

* um pequeno fragmento da introdução ao livro "Proudhon" -- POLÍTICA -- Coleção Grandes Cientistas Sociais, de Paulo-Edgar A. Resende e Edson Passetti (orgs.); Editora Ática; 1986; São Paulo

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