"O anarquismo defende a possibilidade de organização sem disciplina, temor ou punição, e sem a pressão da riqueza."

emma goldman

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2009/10/12

seminário ferrer y guàrdia -- 100 anos__14


Fundador da Escola Moderna

foi executado há um século*

Se muitos conhecem o filósofo Jonh Dewey ou o pedagogo brasileiro Paulo Freire, a maioria desconhece que o inspirador destes reputados pensadores foi o catalão autodidata Ferrer i Guàrdia (1849 – 1909).

O criador da Escola Moderna, fundamentada em ideais libertários, nasceu a 14 de janeiro de 1859, em Alella, na Catalunha. Na adolescência começa a contestar o regime monárquico e o poder da igreja sobre o Estado e os cidadãos. Através da sua ligação com os republicanos, participa em tentativas para derrubar do poder a monarquia e que visavam a instauração da república em Espanha.

Devido à sua atividade política e social, foi exilado em Paris, em 1886, onde conheceu o ideal libertário preconizado pelos anarquistas e identifica-se com Paul Robin, o teórico da Pedagogia Integral e fundador do Orfanato de Cempuis na cidade de Paris.

Em abril de 1901 Francisco Ferrer i Guàrdia recebe uma herança de uma viúva francesa a quem dava aulas de castelhano em Paris. Aos que tratavam de o convencer em utilizar o dinheiro para fins eleitorais, como o líder republicano-socialista radical Alejandro Lerroux responde: “Servirei melhor as minhas idéias fundando a Escola Moderna do que fazendo política”.

No seu livro La Escuela Moderna, Ferrer definia assim o objetivo da Escola Moderna: “Extirpar do cérebro dos homens tudo o que os divide, substituindo-os pela fraternidade e a solidariedade indispensáveis para a liberdade e o bem-estar gerais para todos.”

O ensino ministrado seguia as seguintes orientações: o aluno é livre, livre inclusive de deixar a escola. O aluno goza de uma ampla liberdade de movimentos: vai ou não ao quadro, consulta ou não este ou aquele livro, entrega-se às suas fantasias quando isso lhe agrada, e até pode sair da sala de aula quando tem vontade de o fazer. Não havia exames, nem muito menos castigos e recompensas.

Na realidade, a Escola Moderna foi um importante foco de educação popular: constituída por ensino primário, foi a primeira escola mista na Espanha (inédito na época em muitos países europeus), de dia era para crianças e à noite para adultos; teve aulas de francês, de inglês, alemão, taquigrafia e contabilidade; estava apetrechada com um local onde se realizavam conferências, vocacionado para os sindicatos e as coletividades operárias; tinha ainda uma editora a fim de suprir a crônica falta de material didático, e graças à qual foram editados manuais escolares, livros para adultos, folhetos, informações e um boletim.

Aos domingos funcionava como uma universidade popular acessível a todos.

Além disso, Ferrer é defensor da educação física e da natação, ao mesmo tempo que rejeita os jogos e as provas de competição que servem para alimentar a vã glória dos seus participantes. Estimula os trabalhos manuais para os rapazes, assim como a jardinagem, a limpeza e os trabalhos domésticos, uma forma de nivelar ambos os sexos na execução das mesmas tarefas.

O local escolhido para a instalação da primeira escola foi um antigo convento da rua Bailén, na cidade de Barcelona, tendo aberto as suas portas a 8 de outubro de 1901.

Não é de todo alheio à Escola Moderna e aos seus ideais o fato de a Catalunha ter estado na vanguarda das lutas emancipadoras nos últimos cem anos.

Em 1905 a Escola Moderna espalha-se por 147 espaços por toda a Catalunha. Em 1908 contam-se mil alunos só na cidade de Barcelona, e criam-se centros de ensino do mesmo gênero em Madri, Sevilha, Málaga, Granada, Cádiz, Córdoba, Palma, Valência, assim como noutros países (em São Paulo, Lausanne, Amsterdam e Lisboa).

Em junho de 1906, o governo espanhol fecha a escola-mãe, na rua de Bailén, na seqüência do atentado bombista de Mateo Morral, bibliotecário da Escola Moderna, contra a carruagem real no dia da casamento de Alfonso XIII.

Ferrer i Guàrdia é detido e processado como instigador do atentado. Absolvido das acusações, Ferrer sai da prisão em junho de 1907, mas a Escola-mãe em Barcelona jamais reabrirá portas.

Ferrer promove a criação da revista L’École Renouvée com o subtítulo “extensão internacional da Escola Moderna de Barcelona”, cujo primeiro número é editado em Bruxelas a 15 de abril de 1908 e onde explicitamente se defendia que o militarismo era um crime, que a distribuição desigual dos rendimentos devia ser abolida, que o sistema capitalista era prejudicial aos trabalhadores e que a política dos governantes era injusta. Também defendia a não-violência.

Ao fundar em 1908 a “Liga Internacional para a educação racional da infância” conta com apoiantes de peso como Languevin, Bernard Shaw, Berthelot e Gorki.

No ano seguinte, vários protestos eclodiram na Catalunha contra a guerra da Espanha com Marrocos. Estes acontecimentos ficaram conhecidos como Semana Trágica e foram marcados pela revolta da população de Barcelona que queimou igrejas e conventos, obrigando as autoridades a abandonar a cidade.

No período da revolta, Ferrer encontrava-se de visita a um irmão que morava em Barcelona. A repressão que se seguiu à Semana Trágica prendeu e condenou dezenas de pessoas, entre elas Ferrer, preso no dia 1 de setembro.

O Tribunal de Guerra reunido para os julgamentos aplicou penas que variavam de prisão perpétua à execução. A favor de Ferrer levantaram-se vozes em várias partes do mundo, inclusive no Brasil. Mas para que a “ordem” monárquica e eclesiástica se restabelecesse era imperioso que Ferrer fosse julgado no Tribunal de Guerra, sem testemunhas de defesa.

No dia 09 de outubro, o Conselho de Guerra abriu a sessão e ouviu as contraditórias testemunhas que acusavam Ferrer. A acusação que pesava sobre Ferrer de ser o líder intelectual da Semana Trágica baseava-se unicamente numa denúncia formulada numa carta remetida por prelados de Barcelona.

No mesmo dia foi dado o veredicto final: a pena de morte. A execução ocorreu em 13 de outubro de 1909, na Fortaleza de Montjuich

*Enviado por moésio (A.N.A.), sem a fonte, data ou autoria do texto.

Um comentário:

jack, o estripador disse...

E. DURKHEIM (As regras do método sociológico. Martins Fontes. São Paulo. 1999) reconhece que a educação outra coisa não é que o “esforço contínuo para impor às crianças maneiras de ver, de sentir e de agir às quais elas não teriam chegado espontaneamente forçando-as à calma, à obediência, e a respeitar os costumes, com o objetivo de produzir o ser social”.