"O anarquismo defende a possibilidade de organização sem disciplina, temor ou punição, e sem a pressão da riqueza."

emma goldman

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2010/01/25

por e-mail__11

o extermínio dos inclassificáveis

- autos de resistência à sociedade de controle -

Vera Malaguti Batista

O subtítulo deste livro – “uma vontade de sujeição” – denuncia a adesão subjetiva de parte da sociedade à barbárie, com a crescente demanda coletiva por castigo e punição. A cultura punitiva tem na figura da vítima o seu principal dispositivo e no medo a sua mais potente metodologia.

Cada indivíduo se transforma em uma vítima em potencial, cercada por fatores de risco e fatores de proteção. Desenvolve-se o mercado da segurança, e a expansão do poder punitivo, em todas as direções, captura a Academia, a sociedade civil e movimentos da cidadania. Atrás do discurso politicamente correto do bom-mocismo acadêmico, o que se vê é a legitimação do aumento exponencial dos autos de resistência, que só no Rio de Janeiro chegam a 1.300 por ano.

Nas classificações, estatísticas e georreferenciamentos sempre há espaço para o extermínio dos inclassificáveis. O Estado agencia o extermínio, e a intelligentsia trata de mascará-lo atrás das boas intenções, as políticas de segurança pública com selo dos direitos humanos. As operações letais de alta intensidade não precisam mais ter sentido técnico, de resultados: o sucesso é o enfrentamento em si. Enquanto se dá o extermínio em níveis ascendentes, a sociologia faz a sua parte, calculando o custo dos presos, mapeando as criminalidades, organizando as vítimas, treinando os policiais.

Edson Lopes aponta as semelhanças entre a tautologia positivista e a sociologia funcionalista de hoje. Nos geoprocessamentos das vulnerabilidades juvenis, a descrição em si da pobreza (desestruturações econômicas e familiares, humanos sempre “em falta”) é que vai ser associada ao crime e à periculosidade a serem administrados pelo controle territorial: com prevenção e repressão. Precisamos produzir um mapa que demonstre a coincidência territorial entre essa sociologia funcionalista e o aumento do extermínio. São essas pesquisas tautológicas que fornecerão a comprovação científica da relação entre a pobreza e a criminalidade: vão produzir argumentos para a expansão do poder punitivo em todas as direções.

Ao demonstrar essa vontade de sujeição e ao desmascarar os discursos que lhe dão suporte, Edson Lopes nos ajuda a interpretar melhor a nossa torturante contemporaneidade. Os efeitos estão aí: principalmente a fascistização das relações sociais e a inculcação subjetiva do desejo de punir.


Indicamos para leitura:

POLÍTICA E SEGURANÇA PÚBLICA: UMA VONTADE DE SUJEIÇAO, de Edson Lopes.

Editora: Contraponto

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