"O anarquismo defende a possibilidade de organização sem disciplina, temor ou punição, e sem a pressão da riqueza."

emma goldman

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2010/05/13

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MAIO TEMPO TRÁGICO


A literatura só vale a pena como experiência que faz o pensamento pensar como atividade digestiva: modificando e afetando singularmente os corpos. Os (des)encontros anárquicos de literatura pretendem ser experiências de pensamento, alimento para aplacar a sofreguidão de palavras.

Raduan Nassar, Lavoura Arcaica

(des)encontros anárquicos de literatura.

(leia o livro e traga uma bebida)

15/05, sábado às 20h


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Raduan Nassar é escritor contemporâneo, de narrativa ímpar, nascido em São Paulo, Pindorama. Filho de libaneses, é escritor contemplado até mesmo pela Academia Brasileira de Letras com seu livro único Lavoura Arcaica, que pode ser considerado e comparado com uma obra de Rimbaud.


Quiçá nem haja comparação plausível para o livro Lavoura Arcaica.


Estudou Filosofia, Direito, Ciências Sociais, e o curioso é que na fase do ensino médio, Raduan sofreu ataques de convulsão e ficou com deficiência de memória, o que fez com que o escritor premiado até no exterior ficasse afastado dos estudos por algum tempo.


A estória de Lavoura Arcaica é, no mínimo histórica. Seu irmão Raja, único leitor de seus ensaios pegou seus manuscritos e mostrou para amigos da faculdade de Filosofia onde Raduan e seus cinco irmãos estudaram.


Esses manuscritos acabam chegando às mãos de Dante Moreira Leite que os encaminha à editora Olympio.


[...]

O Livro

Preciso começar pela fantástica estilística de Raduan nesta obra eterna, uma narrativa subjetiva, narrada por André, filho do meio de uma família de camponeses.


Este rapaz observa a vida, as tragédias e os sentimentos das pessoas da casa, mas seus olhos se detém em sua irmã mais nova, Ana.


Através de um amor livre de qualquer censura ou limite por esta irmã, André vai carpindo o horror analítico das relações humanas, compara o amor a uma aventura diabólica e se pergunta, de forma lírica e desesperada se ir-se embora daquela casa não seria melhor e menos trágico.


Fascinante monólogo íntimo onde o leitor se vê um intruso nos sentimentos mais puros que um ser humano pode ter.


Esta novela trágica, merecidamente premiada e lida em todo o mundo, tráz a marca indiscutivelmente sublime de Raduan Nassar narrar a história da vida, as amarguras, os anseios e as dúvidas que habitam as almas em seus recantos mais escuros, guardados em segredo pela ética e moral que o personagem André, de Lavoura Arcaica, questiona do começo ao fim do livro.


São cem páginas para serem lidas sem respirar, não procure parágrafo nem muitos pontos finais, pois André está no fim da linha de seus pensamentos, no meio do nada, no meio do mato, em meio a angustiante e complexo amor.


Lavoura Arcaica é livro obrigatório, faz parte da vida de pessoas em todo o mundo e nosso autor é comparado, de certa forma, a Rimbaud que abandonou sua arte para viver como mercenário na África.


Mas nosso Raduan Nassar, embora também tenha desistido de escrever para espanto do mundo literário mundial, gosta de ser visto até os dias atuais como escritor, mesmo tendo se tornado um simples criador de galinhas em sua fazenda no interior de São paulo.


Críticos e analíticos da literatura se perguntam por que Raduan Nassar teria se afastado da escrita, da manipulação do verbo. Muitos especulam que em Lavoura Arcaica, o escritor tenha deixado expor excessivamente seu interior.


Quem lê este livro pode entender alguma coisa do que escrevi aqui. É fascinante, fantástico, uma prova de que o homem, o escritor pode desdobrar barreiras de tabus e preconceitos que nós, simples mortais, jamais imaginaríamos.


E toda estória é narrada de forma lírica, trágica, incomum e muito bela.


Sem igual. Eu li duas vezes e virou meu consultor de vida nas horas de angústia e questionamentos. Emocionantemente belo. E tragicamente lírico.


Infelizmente Raduan Nassar não soube lidar com o sucesso. Resolveu trocar a estética complexa e desregrada do verbo pela mecânica suave e simples da avicultura. Lamentável.

Daisy Carvalho

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LINK:
RADUAN NASSAR

Centro de Cultura Social

Rua Gal. Jardim nº 253 – sala 22 – Vila Buarque (metrô República)

www.ccssp.org

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