"O anarquismo defende a possibilidade de organização sem disciplina, temor ou punição, e sem a pressão da riqueza."

emma goldman

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2010/10/20

extraindo conceitos

Os conselhos são órgãos revolucionários que surgem espontaneamente entre as classes trabalhadoras em períodos onde a ruptura com a sociedade capitalista e a construção da sociedade socialista se apresentam como possibilidade real para os proletários e camponeses presentes em tais momentos de convulsão social.

Os conselhos tem por objetivo superar a estrutura econômica e política da sociedade burguesa, que se baseia na propriedade privada e na democracia parlamentar.

Os conselhos visam, desse modo, erigir um tipo de administração onde, uma vez socializados os meios de produção, os trabalhadores se organizam de baixo para cima a partir de pequenas unidades, tais como as fábricas, escolas, comunidades etc.. para gerir diretamente os assuntos concernentes a sua existência coletiva.

Depois de interligadas, tais unidades substituem o Estado liberal de direito na tarefa de articular as diferentes partes que compõem a totalidade do corpus social.

Assim sendo, podemos perceber que os conselhos operários podem assumir conteúdos distintos, que são, por sua vez, dependentes do contexto histórico em que estes emergem e se consolidam.

Foi desse modo que procedeu com a Comuna de Paris em 1871, os sovietes na Revolução Russa em 1905 e após, em 1917, os rattes na Revolução Alemã em 1919, as coletividades na Guerra Civil Espanhola em 1936, os caracoles zapatistas no México em 1993 e, mais recentemente, as asambleas na Argentina em 2001.

Usualmente, o conselhismo é tomado como uma expressão filosófica típica do marxismo, mais especificamente do marxismo heterodoxo. Isso fica bastante evidente quando nos deparamos com o trabalho de autores do quilate de Rosa Luxemburg, Anton Panekoek, Paul Mattik, Hermam Gorter entre outros.

Não obstante, a reivindicação dessa herança não é feita apenas pelos marxistas. Como iremos ver mais adiante, outras correntes do pensamento socialista também exigem o seu lugar junto aos demais executantes testamentários do legado deixado por aquilo que seria, segundo a feliz expressão de Hannah Arendt, o “tesouro perdido da tradição revolucionária”.

Dentre essas outras correntes do pensamento socialista estão, naturalmente, os anarquistas, cujas reflexões acerca dos conselhos são anteriores e, em certos aspectos, mais profundas do aquelas realizadas pelos seguidores de Marx.

Nesse sentido, não foi por acaso que o anarquista alemão Rudolf Rocker se esforçou, a maneira de um caçador, para descobrir e decifrar a obscura, porém viva, presença desse tesouro perdido no interior de uma tradição revolucionária que anunciava o fim da desgraça representada pela exploração econômica e pela dominação política.

Esforço este, em grande parte, organizado e sistematizado no livro “Os Sovietes traídos pelos Bolcheviques”, obra em que o autor levanta e discute questões significativas para um correto entendimento acerca da teoria e prática conselhista.

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fonte:

São Paulo: Hedra, 2007

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