"O anarquismo defende a possibilidade de organização sem disciplina, temor ou punição, e sem a pressão da riqueza."

emma goldman

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2011/01/21

extraindo conceitos

Como os animais fazem negócios (3)


Humanos e outros animais compartilham uma herança de tendências econômicas, incluindo cooperação, retribuição de favores e ressentimento com comportamentos desonestos.

por Frans B. M. de Waal


Nova Economia

A economia clássica vê as pessoas como maximizadoras de lucros guiadas por puro egoísmo. Como Thomas Hobbes, filósofo inglês do século XVII, afirmou:

"Todo homem, supõe-se, procura naturalmente aquilo que é bom para si mesmo, ao passo que (procura) o que é justo e favorece a paz, apenas acidentalmente".

Nessa visão ainda prevalecente, a sociabilidade é apenas uma reflexão tardia, um "contrato social" a que nossos ancestrais aderiram por causa de seus benefícios, não porque tinham alguma afeição mútua.

Para a biologia, essa história imaginária está fora da realidade. Descendemos de primatas que viviam em grupos, o que significa que somos naturalmente equipados com o desejo de nos adaptar e descobrir parceiros com os quais possamos conviver e trabalhar.

Essa explicação evolutiva está ganhando prestígio com o advento da economia comportamental, escola que enfoca o comportamento humano vigente, em vez de as forças abstratas do mercado, como guia para compreender as decisões econômicas.

Em 2002 essa escola ficou conhecida quando dois de seus fundadores, Daniel Kahneman e Vernon L. Smith, dividiram o Nobel de Economia.

A economia comportamental animal é um campo que fornece suporte para novas teorias ao mostrar que tendências econômicas e preocupações humanas básicas - como reciprocidade, divisão de recompensa e cooperação - não são restritas a nossa espécie.

Elas provavelmente evoluíram em outros animais pelas mesmas razões que em nós - para ajudar os indivíduos a otimizar a vantagem mútua sem minar os interesses compartilhados e que dão apoio à vida em grupo.

Vejamos o recente incidente na minha visita ao Centro Nacional Yerkes de Pesquisa em Primatas, de Atlanta. Ensinamos os macacos-prego a alcançar uma xícara com alimento puxando uma barra presa à bandeja onde ela estava.

Ao deixarmos a bandeja muito pesada para ser puxada por um único indivíduo, demos aos macacos uma boa razão para trabalharem juntos.

Em uma ocasião, o ato de puxar foi realizado por duas fêmeas, Bias e Sammy. Sentadas em gaiolas contíguas, elas conseguiram alcançar a bandeja com as duas xícaras.

Sammy, entretanto, apanhou sua xícara com tanta rapidez que acabou soltando a barra antes que Bias pudesse apanhar a sua. A bandeja correu para trás e ficou fora do alcance de Bias.

Enquanto Sammy mastigava ruidosamente, Bias teve uma explosão de raiva e gritou alto por cerca de 30 segundos. Sammy, então, pegou sua barra de puxar e ajudou Bias a trazer a bandeja outra vez a seu alcance.

Sammy não fez isso em benefício próprio, já que, agora, a sua xícara estava vazia.

O comportamento corretivo de Sammy parecia ser uma resposta ao protesto de Bias contra a perda de uma recompensa esperada.

Essa ação está muito mais próxima das transações econômicas humanas do que aquela dos caranguejos eremitas, porque mostra cooperação, comunicação e cumprimento de uma expectativa, talvez até mesmo senso de obrigação.

Sammy mostrou-se sensível à situação de compensação.

Tal sensibilidade não é de surpreender, dado que a vida em grupo dos macacos-prego gira em torno da mesma interação entre cooperação e competição que caracteriza nossa própria sociedade

segue...


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