"O anarquismo defende a possibilidade de organização sem disciplina, temor ou punição, e sem a pressão da riqueza."

emma goldman

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2011/01/24

extraindo conceitos

Como os animais fazem negócios (5)


Humanos e outros animais compartilham uma herança de tendências econômicas, incluindo cooperação, retribuição de favores e ressentimento com comportamentos desonestos.

por Frans B. M. de Waal


Justiça é Justiça


Para colher os benefícios de cooperação, um indivíduo deve monitorar seus esforços relativos a outros e comparar sua gratificação com o esforço aplicado.

Para investigar se os animais realizam tal monitoramento, voltamos mais uma vez aos macacos-prego, testando-os em um mercado de trabalho em miniatura, inspirado nas observações de campo desses macacos atacando esquilos gigantes.

A caça ao esquilo é um esforço de grupo, mas todas as recompensas acabam nas mãos de um indivíduo:

o captor.

Se apenas o captor fica com a presa, é de se imaginar que os outros perderiam o interesse em se juntar a ele em outra ocasião. Os macacos-prego compartilham a carne pelas mesmas razões que os chimpanzés (e que as pessoas): não pode haver caça em grupo sem que haja compensação conjunta.

Imitamos essa situação em laboratório para que só um macaco (que chamamos de vencedor) de uma dupla que puxa as bandejas recebesse uma xícara com pedaços de maçã. O outro, denominado de operário, não tinha alimento em sua xícara, o que para os dois era evidente desde o início, pois elas eram transparentes.

Portanto, o operário puxou a bandeja só para ajudar o vencedor. Os macacos estavam sentados lado a lado, separados por uma rede.

Sabemos, de testes anteriores, que quem possui o alimento pode deixar um pouco da comida próximo à divisão das gaiolas, permitindo que seu vizinho a alcance.

Comparamos os esforços coletivos com os individuais. Em uma situação, ambos os animais tinham uma barra de puxar e a bandeja estava pesada; em outra, faltou a barra do parceiro, e o vencedor manipulou sozinho uma bandeja mais leve.

Houve mais episódios de compartilhamento de alimento depois de episódios de esforços coletivos do que de isolados: os vencedores estavam, na verdade, compensando seus parceiros pela assistência que haviam recebido.

Confirmamos também que o ato de compartilhar influi em uma cooperação futura. Como a taxa de sucesso da dupla cairia se o vencedor se recusasse a compartilhar, o pagamento do operário era uma estratégia inteligente.

Sarah F. Brosnan, uma de minhas colegas em Yerkes, foi mais longe, explorando reações ao modo como as recompensas são divididas. Ela ofereceu a um macaco-prego um seixo e em seguida mostrou um pedaço de pepino instigando-o a devolver o cascalho.

Os macacos compreenderam depressa o princípio da troca. Colocados lado a lado, dois macacos alegremente trocaram os seixos pelo pepino com a pesquisadora.

Quando um deles, porém, recebeu uvas ao passo que o outro continuou a receber pepino, as coisas tomaram um rumo diferente. Os macacos preferem uva a pepino. Os animais que tinham trabalhado bem em troca de pepino de repente entraram em greve.

Não apenas relutaram em interagir, visto que o outro tinha conseguido uma recompensa melhor, mas ficaram agitados, arremessaram os seixos e, algumas vezes, até o pepino.

Um alimento normalmente nunca recusado tornou-se pouco desejável.

Rejeitar um pagamento desigual - algo que as pessoas também fazem - vai contra as regras da economia tradicional. Se a maximização dos benefícios é o que importa, deveríamos nos contentar com aquilo que obtivemos e não deixar que ressentimentos interferissem.

A economia comportamental, por outro lado, assume que a evolução conduziu a emoções que preservam o espírito de cooperação e que elas influenciam o comportamento.

A curto prazo, preocupações sobre o que os outros conseguiram pode parecer irracional, mas a longo prazo pode impedir que o outro tire vantagem de determinada situação. Desencorajar a exploração é ponto crítico para uma cooperação duradoura.

Ficar de olho no fluxo dos benefícios e dos favores, entretanto, é um aborrecimento. Isso explica por que os humanos protegem-se contra o "parasitismo" e a exploração, formando relações amigáveis com seus parceiros - como marido e mulher e bons amigos - que têm resistido ao tempo.

Uma vez que determinamos em quem podemos confiar, relaxamos. Somente com parceiros mais distantes mantemos registros mentais e reagimos à desonestidade.

Descobrimos o mesmo efeito de distância social nos chimpanzés. A política do "olho por olho" é rara entre amigos que habitualmente trocam favores. Essas relações também parecem imunes à injustiça.

Nos testes de trocas com uvas e pepinos, Brosnan notou que a reação mais violenta se deu entre aqueles que se conheciam havia pouco tempo, enquanto membros de uma colônia que viviam juntos fazia 30 anos pouco reagiram.

Talvez, quanto maior a familiaridade, maior o tempo durante o qual os chimpanzés avaliam suas relações. Só as distantes são sensíveis às flutuações do dia-a-dia.

Todos os agentes econômicos, humanos ou animais, precisam lutar contra o problema do "parasita" e o modo como os lucros são divididos após um esforço conjunto. Eles dividem mais com aqueles que os ajudam mais e demonstram fortes reações quando as expectativas são violadas.

Uma verdadeira disciplina evolutiva da economia reconhece esse tipo de psicologia comunal e considera a possibilidade de que nós adotamos o conceito moral de tratar os outros como queremos ser tratados, não acidentalmente, como Hobbes pensava, mas como herança de nosso passado como primatas cooperativos.


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