A mentira da representação
O governo representativo não é o governo do povo e a democracia burguesa não é um instrumento de participação direta e de controle efetivo da maioria sobre a sociedade. Ela é, pelo contrário, uma garantia de que essa participação e esse controle não se tornem possíveis.
A idéia de que o eleitor decide os rumos da sociedade por meio do voto é uma mentira descarada, que a vida real desmente o tempo inteiro e que serve apenas para mascarar as brutais desigualdades de acesso e exercício efetivo do poder político existentes na sociedade, decorrentes das diferenças de poder econômico.
A verdade é que cotidianamente “o cidadão comum”, o mesmo que é bajulado e acariciado nas campanhas eleitorais como soberano e senhor dos rumos da sociedade, é distanciado dos processos de decisão política na esfera do Estado, que no geral são tomadas sem o seu conhecimento e à revelia dos seus interesses e das suas necessidades concretas.
Além disso, “a mão que afaga, é a mesma que apedreja”:
toda vez que se organiza para conquistar seus interesses por meio de sua própria luta, ele é obrigado a enfrentar a violência da polícia e da justiça do Estado.
Apenas um minuto depois de votar o eleitor volta a ser o escravo de sempre, entregue às suas misérias cotidianas, explorado, humilhado, visto com desprezo e chicoteado pelo patrão, pela polícia e pelos carrascos que ele próprio elegeu.
As eleições revelam-se assim apenas um jogo sujo, no qual se simula a busca do bem-comum e o atendimento das demandas e necessidades dos mais pobres.
O que se esconde, e cada vez pior, por trás do cinismo e da canalhice das propagandas eleitorais, é a disputa pela obtenção de privilégios materiais e políticos por meio da conquista de cargos no Estado e da rapina dos recursos públicos para atender a interesses particulares de parlamentares, dos partidos e frações de classe dos quais fazem parte, e ao fim e ao cabo, voluntariamente ou não, garantir a continuação de um sistema social desumano e injusto.
A representatividade é uma grande mentira, na medida em que a garantia de direitos políticos formais é incapaz de garantir até mesmo a satisfação das necessidades mais elementares de um número crescente de pessoas.
A sociedade capitalista zomba dessa legião de famélicos miseráveis que se multiplicam como coelhos pelos campos e cidades do Brasil e do mundo.
Eles não possuem poder para decidir sequer se irão comer, se poderão cuidar da saúde ou se terão um teto para morar. Esta é a grande barbárie que os sistemas representativos se propõem ocultar e perpetuar.
>> continua...
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